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Como vamos colorir a crise?

Por Celio Gari, no círculo de cidadania, em 16/5/2015

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Hoje é o Dia do Gari. Mas eu não tenho o que comemorar. É o primeiro 16 de maio em 20 anos em que estou desempregado. Fiquei sem salário num momento difícil. No mês passado, fui demitido com mais 76 colegas, em retaliação pela greve dos garis do Rio de Janeiro. Mais de 300 foram demitidos em 2014 dentro da política de terceirização. Para cada um que veste o uniforme laranja do gari, hoje têm nove funcionários de empresas terceirizadas de limpeza das ruas, praças, escolas, hospitais e repartições. No Brasil, a terceirização não é novidade. A perseguição de quem exige direitos também não.

Sei que não estamos sozinhos. Trabalhadores do Brasil inteiro, professores, metroviários, rodoviários, bombeiros, servidores, terceirizados, nós já estamos sentindo o arrocho fiscal do governo. São cortes sociais, aumentos de impostos e tarifas, suspensão de bolsas, redução de crédito para casa própria, eletrodomésticos e móveis, queda do investimento. Um governo que vende a imagem de defesa dos trabalhadores mas que passou anos privatizando os ganhos a empreiteiros, bancos, políticos, donos de fazendas, de televisão, das montadoras, e que agora precisa repassar as perdas à população, aos mais pobres, estudantes, precários, aposentados.

Ontem, o movimento 15M na Espanha completou quatro anos. Meu amigo Raúl Cedillo, que conheci em São Paulo, me contou que lá eles se uniram na mensagem: “Não somos mercadoria nas mãos de banqueiros e políticos”. Nas redes e praças, se uniram e pararam de votar no cinismo de quem promete uma coisa e no dia seguinte faz o contrário. A gente precisa disso também. Fazer política além do voto e se unir para além das bandeiras e categorias. A gente precisa se reorganizar, construir novos métodos. Porque estamos todos indignados.

A crise é um grande vazio de esperança. Acontece a solidão, a desunião, o sentimento de derrota. É amargo ser perseguido e se sentir fraco. Mas em política não existe vazio por muito tempo. É preciso levantar a cabeça e fazer. A crise também é um momento de oportunidade para fazer diferente. Ou a gente colore o livro branco da crise com outras cores, ou continua refém dos banqueiros e governos, que hoje só querem ver a cor do dinheiro. Então faço um convite a todos a pegar lápis de cor e giz de cera e juntos fazermos diferente.

 

Celio Viana, o “Celio Gari“, é trabalhador da Comlurb desde 2002. Em abril de 2015, foi demitido depois de participar da greve da categoria, em março.

imagem: André Vallias

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