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Jeitos: situações de violência e potência dos corpos

Chamada de artigos para número especial da Revista Lugar Comum, até 21 de janeiro de 2018 (normas da revista)

Organizadores: José Antonio Magalhães e Renan Porto

JEITOS
Situações de violência e potência dos corpos vulneráveis

Glauber Rocha, um dos grandes pensadores brasileiros da potência dos pobres, já dizia que “a liberação, mesmo nos encontros da violência provocada pelo sistema, significa sempre negar a violência em nome de uma comunidade fundada pelo sentido do amor ilimitado entre os homens”. Situação paradigmática do problema brasileiro (mas também e cada vez mais mundial): a violência sistemática que se exerce, como injustiça, sobre um corpo vulnerável — do índio, do negro, da mulher, do pobre… –, e o jeito que esse corpo encontra, na contingência, de contornar o poder e produzir algum grau de liberdade para si. A aposta é pensar a potência dos vulneráveis a partir de uma situação singular de violência e da sua relação com o corpo e o afeto.

A “ralé brasileira”, conforme descrita por Jessé Souza, caracteriza-se por ser puro corpo, e daí o autor depreende a sua absoluta impotência de agir. Contrariamente a essa premissa, o que se observa ao longo da nossa história autoritária é que os vulneráveis sempre encontraram jeitos de levar a vida, com uma criatividade que desafia a lógica do poder, da economia, das ciências sociais. A ralé brasileira dá seus jeitos e, nesse sentido, a crítica de Souza às interpretações do Brasil que falam do jeitinho e do homem cordial perde de vista que essas figuras, longe de ser simplesmente negativas, ou associadas diretamente ao patrimonialismo, situam-se, muitas vezes, em um campo de estratégias de contrapoder que resistem igualmente à versão liberal/neoliberal do capitalismo e à sua versão estamental/patrimonialista.

Dar um jeito de viver apesar do poder; excepcionar a regra no jeitinho; criar uma possibilidade lá onde havia o impossível — é preciso ouvir na palavra jeito, em todos esses usos, o seu sentido corporal e gestual, pois é a partir do corpo e da sua afetividade que essas possibilidades se produzem e conectam. Em cada situação singular de violência, é nos jeitos do corpo e na cordialidade entre a gente — que Sérgio Buarque já ressaltava relacionar-se ao coração, e não a uma atitude pacífica — que produz-se a potência de viver. Na absoluta precariedade da favela, é a habilidade de lidar com a contingência e o senso de cooperação que produz uma cultura riquíssima — Hélio Oiticica foi um que percebeu essa criatividade da favela em sua potência estética e política, tão urgente ainda de ser mobilizada por um pensamento da insurgência.

Pensar os jeitos é pensar, a partir da contingência de cada exercício violento de poder, a potência do corpo vulnerável de produzir formas de vida e, assim, tornar a vida possível. Ademais, esse pensamento que parte dos jeitos de ser e de fazer como singulares e paradigmáticos abre um campo de estudos — nem metafísico, nem ontológico, nem epistemológico — em que qualquer prioridade ou hierarquia é suspensa, e em que todo jeito é um jeito a partir do qual participar dos múltiplos campos da vida. Essa é a proposta desta chamada de textos, que se dispõe a conjugar as discussões sobre o Brasil — dos sociólogos/intérpretes aos antropófagos e tropicalistas — ao debate filosófico-político sobre a justiça e a injustiça, o biopoder e a biopolítica, a produção do comum, etc.

INFORMAÇÕES PARA A APRESENTAÇÃO DE TEXTOS

Colaborações a esse número da revista Revista Lugar Comum: Estudos de mídia, cultura e democracia (ISSN/1415-8604) podem ser enviadas até 21 de janeiro, nos e-mails jamagalhaes22@gmail.com e rnanporto@gmail.com

Além da publicação impressa, todos os números da revista estão disponíveis online em https://dev.integrame.com.br/lugarcomum

Tamanho dos artigos: Entre 20.000 e 50.000 toques (inclusive espaços).

Elementos obrigatórios: Título e título traduzido (em inglês ou espanhol); palavras-chave e tradução das palavras-chave (em inglês ou espanhol); resumo com até 300 palavras e tradução do resumo (em inglês ou espanhol); pequeno parágrafo biográfico indicando formação e, se for o caso, onde ensina, estuda e/ou pesquisa, sua área de atuação e principais publicações.

Formatação básica: Letra 12, Times New Roman, margem justificada, espaçamento 1,5, parágrafos com 1,5 cm de afastamento.

Citações: Recomenda-se o sistema autor-data (NBR 10520/2002); além da indicação do autor e ano da publicação, indicar a(s) página(s) de onde foram retiradas; evitar que sejam numerosas e extensas; em língua estrangeira: devem ser seguidas da expressão “tradução nossa” entre parênteses; caso a citação seja em língua estrangeira, sua tradução deve vir no pé da página, com igual identificação entre parênteses.

Referências: conforme NBR 6023/2002.

Pé de página: deve ser utilizado para notas explicativas, endereços, aditamentos ao texto, mas não para referências bibliográficas.

Traduções: trazer o nome e e-mail do tradutor, e indicação de onde o texto foi publicado, caso não seja inédito.

Uso de itálico: a) títulos de livros, jornais, artigos, crônicas etc, bastando usar em maiúscula a primeira palavra (ex.: Gabriela cravo e canela; A casa das sete mulheres); b) palavras ou expressões estrangeiras (goal, american way of life), excetuando: – nomes de entidades (Library of Congress), empresas (Edizione Scientifiche Italiane), países (United Kingdom), pessoas (Claude Lévy-Strauss). Exceção: expressões latinas usadas no texto, segundo autorizam as normas da ABNT (ex.: et al. e apud), que devem figurar em redondo.

Uso de aspas: apenas para as citações curtas no corpo do texto, embora possam ser aplicadas em caso de neologismos ou de palavras e expressões que mereçam destaque (neste caso, usá-las com parcimônia).

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