Design da(com) a t(T)erra:
terrestre, território, terra-floresta e terraforming
Barbara Szaniecki, Carolina Noury e Kauê Marcos Pereira da Silva
Antropoceno. Aquecimento Global. Diante do desastre já em curso, organismos internacionais procuram encaminhamentos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, portanto, o aquecimento global. Para além das iniciativas institucionais, multiplicam-se iniciativas cidadãs de agricultura urbana e, mais em geral, de busca por outros modos de vida e de cuidados com a Terra como planeta e com a terra como matéria, dentre muitas significações. Movimentos sociais manifestam sua inquietação em eventos locais ou globais e, muito mais do que simples soluções técnicas, as novas gerações parecem procurar uma verdadeira transição e uma urgente reorientação. Nesse sentido, se as soluções “técnicas” são necessárias, elas são insuficientes para abrir o imaginário e o movimento necessários para a realização desta reorientação com muitos Ts.
Inspirado na leitura de Wellington Cançado, o termo t(T)erra pretende articular Ts oriundos de diferentes epistemologias e de diversas estéticas de vida. Após muitos anos desenvolvendo uma proposta de ecologia política, Bruno Latour denominou terrestre a reorientação necessária para sair da moderna tensão entre o global e o local, assim como enfrentar os tão contemporâneos negacionismos. A articulação entre o global e o local, assim como a conexão entre os seres e seus modos de vida, é muitas vezes concebida como território. Em outro canto do mundo, Arturo Escobar enfatiza a relevância dos territórios na sua obra e, também recentemente, os estende conceitualmente ao apresentar as noções de territorializações e territorialidades a partir de Carlos Walter Porto-Gonçalves. Esta extensão conceitual envolve uma multiplicidade de atores humanos e não humanos, reais e virtuais. Pelo seu viés absolutamente não utilitário, a terra-floresta tal como pensada por Davi Kopenawa e Bruce Albert é praticamente inconcebível para o pensamento hegemônico moderno. Não se trata de matéria-prima a serviço da humanidade, de natureza subjugada à cultura. Terra-floresta abole essa racionalidade dicotômica e nos demanda uma sensibilidade relacional e uma acuidade sensorial. Indígenas e quilombolas estão nessa frente t(T)erra. Contudo, diante da destruição da floresta amazônica, entre outros biomas, é importante considerar todo tipo de recurso teórico e prático. Para Benjamin Bratton, tanto o colapso climático quanto o colapso social devem ser enfrentados por meio de uma mutação tão geotécnica quanto cultural: terraforming. Paradoxalmente, para a recuperação do “natural”, é preciso apostar no “artificial”: mudanças climáticas antropogênicas devem ser abordadas com respostas tão antropogênicas quanto elas. Eis então os 4Ts que nesta edição pretendemos articular: terrestre, território, terra-floresta e terraforming.
Esses modos novos (ou nem tão novos assim) de abordar as questões da t(T)erra, demandam, portanto, sempre mais outras práticas visuais. Donna Haraway observa as práticas simpoiéticas de terrâneos, esses seres ctônicos que, ao produzir String Figures entendidas como configurações sociais e visuais, performam outros mundos. Já Bruno Latour, para apreender o Terrestre, propõe listar em cadernos aquilo que nos é necessário para viver. Em sintonia com esse pensador, Frédérique aït-Touati, Alexandra Arènes e Axelle Grégoire seguem de certa forma os passos dos viajantes que outrora procuraram mapear terras incógnitas, mas propõem descobri-la de outras maneiras a partir de outros paradigmas e sobretudo de outras práticas de terraformação entre outras grafias da terra. Por um viés mais tecnológico, Benjamin Bratton contrapõe duas imagens: a famosa fotografia da Terra feita pelos astronautas da Apollo 17 (Bola de Gude Azul, 1972) e a recente imagem realizada pela rede de telescópios Event Horizon (Buraco Negro, 2019). Esta última não deixa de ser uma metáfora da atual catástrofe, mas a aposta do autor não é nada catastrófica e tem seu cerne no design. Que design? Nossa aposta é em um Design da e com a t(T)erra a inventar, que possa abrir novas grafias e outros imaginários tanto com as imagens de papel das bibliotecas quanto com as imagens vistas pelos xamãs nas florestas. Se considerarmos que a crise da representação estética acompanha a atual crise de representação política, faz-se urgente observar também as imagens das manifestações e movimentos contemporâneos por ressurgências da t(T)erra, de modo a apreender seus gestos e seus desejos expressos.
Aguardamos suas propostas!
Elas devem ser enviadas com cópia aos 3 editores responsáveis:
Barbara Szaniecki: szanieckibarbara@gmail.com
Carolina Noury Azevedo: carolinanoury@gmail.com
Kauê Marcos Pereira da Silva: kmrcs@outlook.com
Chamada para núcleo temático da Lugar Comum – mídia, cultura e democracia.
A revista é vinculada ao Laboratório Território e Comunicação – LABTeC/UFRJ e conta com o apoio de professores e pesquisadores das redes Moitará e Universidade Nômade.
Acesse as normas de publicação em Diretrizes para autores
Cronograma:
Abertura da chamada: 20 de julho
Prazo: 30 de outubro
Retorno aos autores para adequações: 20 de novembro
Finalização das adequações: 20 de dezembro
Previsão de publicação: 30 de dezembro 2023 / 15 de janeiro 2024
