Por Nathalie Drummond
A UniNômade publica um contraponto ao texto “O PSOL e a OcupaCâmara“, de Luiz Cotinguiba (publicado em 29/10), que relata as relações entre ocupantes da Câmara dos Vereadores do Rio, em agosto, e um grupo de ativistas ligados ao partido.
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Caros do Universidade Nômade, entro em contato por sugestão de um amigo. Ele me indicou um artigo publicado no blog de vocês, intitulado “PSOL e o Ocupa Câmara”. Por sugestão dele, eu decidi lhes escrever alguns esclarecimentos. Espero ser compreendida e que pelo menos a outra versão da história seja veiculada por vocês também.
Sei que há muitas visões sobre o significado do Ocupa Câmara, especialmente do episódio de ocupação de seu interior quando da aprovação da CPI dos Ônibus. Não vou detalhar aqui a minha visão particular.
Acho rico e natural que opiniões distintas sobre determinados episódios se disseminem. Especialmente após os levantes iniciados em junho, onde o nível de instabilidade política e social é bastante grande, muitas leituras estão sendo feitas. Só o desenrolar da luta vai nos revelar quem conseguiu se aproximar mais da explicação da atual situação política.
O que me preocupa é que para fortalecer determinadas leituras se recorra a inverdades. Por isso, decidi não ser omissa em relação ao referido artigo. Estive ocupando a câmara junto com o colega que fez o relato. E tenho a impressão que duas coisas necessitam ser esclarecidas, ou no mínimo, que seja apresentada a outra versão.
1) Sobre a nota veiculada para a mídia, com as pautas da ocupação. Não é verdade que ela já estava escrita antes mesmo da primeira plenária dos ocupantes. Digo isso me fiando por um fato. Nós do PSOL defendíamos que a nota contivesse as pautas Fora Paes e Fora Cabral. Gastamos bons minutos em plenária decidindo sobre isso, e a deliberação final da plenária foi restringir a pauta aos motivos da ocupação, ou seja, CPI dos Ônibus. A pauta recebida e divulgada amplamente pelos jornais naquele dia não consta esta consigna (Fora Paes e Fora Cabral). Se nós tivéssemos redigido a mesma antes desta plenária, com certeza absoluta ela seria fiel a esta política. Não foi o caso. Inclusive a nota recebida pela imprensa está nos termos redigidos pelo colega que assina o relato, pois ele fez parte da comissão de redação dela. Como nós do PSOL iríamos supor com antecipação a opinião política e como a própria nota seria redigida por pessoas que não conhecíamos antes da plenária? Se a imprensa tinha conhecimento de parte desta pauta antes mesmo da ocupação ocorrer, era porque ela era o próprio motivo daquela ocupação.
2) O segundo refere-se ao suposto roubo do dinheiro. Esta é uma inverdade ainda mais grave. Ao final da plenária que votou por uma ligeira maioria que haveria desocupação, levantou-se a dúvida de com quem ficaria o dinheiro restante. Os colegas que decidiram permanecer no interior da câmara ainda não haviam tomando sua decisão final. Pois eles queriam se reunir com tranquilidade após a saída daqueles que já haviam tomado a decisão. Dois daqueles que ainda estavam em dúvida apontaram o seguinte problema: se daqui algumas horas a gente decidir sair daqui não saberemos o que fazer com o dinheiro, então, o melhor é tomar a decisão todo mundo junto. Foi ai que eu mesma fiz a proposta de doar a grana para a Ocupação Manoel Congo, pois eles haviam nos garantido alimentação durante o período que ficamos ocupados. Inclusive, quem conduziu o dinheiro para a Ocupação foi um rapaz que havia votado para ficar, mas que ao final decidiu sair tbm. Inclusive tenho quase certeza que a grana toda foi para a Ocupação. Eram cerca de 400 reais, é possível verificar isso com a turma da MC. Nós ficamos na esquina da Rua da Câmara aguardando ele entregar o dinheiro e retornar. Não houve roubo e nem a entrega de uma parte para uma militante que havia perdido sua câmera. Foi uma deliberação tomada em conjunto. Ela pode ter sido errada, ser questionada, mas quem tem responsabilidade sobre ela são todos aqueles que votaram por isso. E foi uma decisão unânime. Não foi uma decisão dos militantes do PSOL. Não sei se o rapaz que faz o relato estava nesse momento na plenária, porque ele mesmo diz que se ausentou ao final dela. Mas é muito grave dizer que foi roubo.
Bom, me preocupei em escrever estes dois esclarecimentos porque acho que se queremos caminhar para construir prática sociais e políticas completamente distintas das que vivenciamos e reproduzimos nesta sociedade carcomida, acho que temos que evitar reproduzir inverdades ou até mesmo calúnias.
Se os autonomistas, anarquistas, Black Blocs, leninistas, marxistas, reptilianos, pelegos, revolucionários ou psolistas estarão certos sobre os melhores métodos, a melhor política, sobre a realidade, só a prática política diária e os próximos capítulos desta história nos dirão. Mas até chegar lá, o melhor é que apesar das diferenças estejamos do mesmo lado da trincheira.
Em síntese, aceito todas as críticas ao PSOL. Todas. Mas não serei omissa diante de inverdades.
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NOTA
1. Como o colega comentou em seu relato costumamos escrever bastante sobre nossas opiniões. Eis aqui duas delas, uma sobre a referida ocupação e outra uma visão sobre contra quem as frações de esquerda estão lutando.
Seguem:
http://juntos.org.br/2013/08/a-ocupacao-da-camara-do-rio-um-passo-importante/