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A Revista Lugar Comum: Estudos de mídia, cultura e democracia (ISSN/1415-8604) está selecionando artigos para seu próximo número, buscando, em especial, colaborações para a realização de uma sessão temática sobre “General Creativity: a criatividade e o comum”.
Especificações dos artigos, para quem enviar e outros detalhes: clique aqui.
CHAMADA para o dossiê “General Creativity”: a criatividade e o comum
Tema
O tema das “indústrias criativas” apareceu num estudo da Federação das Indústrias do RJ (FIRJAN), de 2008, em que pela primeira vez se mapeava o dito “setor criativo”. Desde então, articulações institucionais entre as esferas municipal, estadual e federal vêm se realizado ao redor do discurso da “economia criativa”. Em junho de 2012, foi criada a Secretaria de Economia Criativa, ligada ao Ministério da Cultura, assim como o Observatório Brasileiro da Economia Criativa (OBEC), em parceria com universidades federais. No Rio de Janeiro, a Prefeitura assumiu o label “cidade criativa” e, no final de 2010, se integrou à rede Districs of creativity, formada por 13 “cidades globais” dentre as mais “inovadoras e criativas do mundo”. A elaboração das políticas orientadas pelas indústrias ou economias criativas coincidiu com a chegada de uma série de megaeventos e megaequipamentos esportivos e culturais no país.
As manifestações de 2013 tiveram como estopim demandas de mobilidade urbana, de moradia, de saúde e de educação, como também demandas por qualidade de vida na cidade, no sentido da “produção do comum” [1], de fluxos afetivos e redes colaborativas diretamente enervadas nos territórios produtivos e biopolíticos da metrópole — uma criatividade difusa implicada no caldeamento contínuo de singularidades. A economia criativa, tal como vem sendo aplicada nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo, não tem qualquer êxito em nenhuma das demandas citadas.
Nesse cenário de descompasso entre as promessas da economia criativa e a produção da metrópole por seus viventes, é preciso pesquisar e praticar caminhos que não se restrinjam à Economia Criativa atrelada a megaprojetos. É preciso pensar e criar o comum da e na cidade. Como articular criatividade e comum? Com que práticas, discursos, métodos, linhas de ação, intervenção ou copesquisa? Criatividade, na perspectiva do comum, é o tema desta revista.
As contribuições poderão articular livremente os seguintes subtemas (listagem não-exaustiva), a ser desenvolvidos enquanto investigação sobre a criatividade e a constituição do comum:
Subtemas
1. Economia criativa no Brasil e no mundo: marcos históricos, diferentes concepções ao redor do mundo, institucionalização no Brasil (nos diferentes níveis de governo, na universidade e na sociedade).
2. Alavancadores da economia criativa: a economia criativa é constituída por setores tidos como alavancadores da economia, do artesanato até a arte contemporânea passando pelo design. O marco mais evidente deste processo é a proliferação de instituições como museus, além de inúmeros editais. Como eles, os “setorizados” (do setor criativo), se vêem nesse processo? Se enquadram, negociam, resistem, criam alternativas?
3. Economia criativa, criatividade e novas tecnologias: a economia criativa fomenta e é fomentada pelas novas tecnologias, pela expansão das redes e pelos princípios de conexão e conectividade, geralmente do ponto de vista dos negócios. Que outras redes, conexões e conectividades são possíveis para além dos novos negócios em rede, com suas novas formas de captura e de acumulação?
4. Economia criativa, criatividade e propriedade privada: para além do Creative commons, como ficam nessa economia, as formas de compartilhamento como o copyleft entre outras formas mais experimentais? como as iniciativas artísticas, culturais e criativas têm se relacionado com a propriedade privada ou compartilhada? Qual é a forma de lidar com a propriedade privada de uma comunidade quilombola ou de uma comunidade indígena?
5. Economia criativa, criatividade e experimentações produtivas e políticas: o fortalecimento das práticas artísticas, culturais e criativas pelo viés da Economia Criativa, com o total apoio do Ministério da Cultura, teve impacto em políticas culturais como a dos Pontos de Cultura entre outras? A “economicização” da cultura reduz a sua “politicização”? Em que medida a integração da cultura ao mercado reduz a potência política de seus agentes? Que experimentações produtivas e políticas tem sido possíveis a partir da criatividade?
6. Economia criativa, criatividade e território: a Economia Criativa tem como marca o desenvolvimento de “clusters criativos”: seriam esses “clusters criativos” adequados para as cidades brasileiras com as suas características peculiares? Haveria outros modelos mais adequados aos nossos conglomerados metropolitanos, hibridações de áreas formais e informais com atividades singularmente espacializadas? Como potencializar a criatividade no território para além dos ditames econômicos?
7. Economia criativa, classe criativa, gentrificação: a capacidade singular de artistas, designers e arquitetos entre outros “criativos” de habitar e recriar bairros degradados inspirou Richard Florida na concepção de uma “classe criativa”. Sua teoria baseada na revitalização do Soho inspirou outros gestores locais. Em que medida a chegada da “classe criativa” em um bairro ou área da cidade implica na saída da população local?
8. Economia criativa, criatividade e megaeventos: A Economia Criativa está atrelada aos megaeventos, a seus megaequipamentos esportivos e culturais e a todo o desenvolvimento da cadeia produtiva do turismo. Em que medida esse modelo corresponde aos desejos e às necessidades dos cidadãos? dos sujeitos que se reconhecem como criativos?
9. Economia criativa, criatividade e subjetividade: à diferença da indústria cultural que, segundo a famosa critica de Adorno e Horkheimer (mas não apenas) aniquilava a subjetividade do produtor e do consumidor, as indústrias criativas tendem a gerar uma excitação contínua seja na produção seja no consumo. Que subjetividades correspondem e respondem a essa contínua demanda da produção? e que subjetividades a ela resistem?
10. Economia criativa e criatividades alternativas e radicais: Desde 2013, as manifestações nas ruas e nas redes de todo o Brasil mostram uma criatividade generalizada, fruto da multidão e seus processos colaborativos. Podemos falar de uma “General Creativity” (à semelhança do conceito marxista de “General Intellect”? [2]) que tensiona o capitalismo cognitivo, cultural e criativo?
11. Economia Criatividade e Educação: que políticas educacionais, práticas de educação formal e informal têm adotado o paradigma da economia criativa e quais seus efeitos na educação?
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PRAZO da CHAMADA: 31 de agosto de 2014.
Os artigos devem ser encaminhados para os seguintes membros do Comitê Editorial, para parecer e aprovação:
Bruno Cava – hamletvictrix@hotmail.com
Bárbara Szaniecki – dolar.rj@terra.com.br
Para informações sobre especificações, encaminhamento de artigos, normas da revista e avaliação: clique aqui.
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NOTAS
[1] – Negri & Hardt, Commonwealth, Harvard Press, 2009
[2] – Marx, Grundrisse, Fragmento sobre as máquinas (p. 589-612), Boitempo, 2011.