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Outra agenda além do kirchnerismo

Por Diego Sztulwark, no facebook, 23/1 | Trad. UniNômade

Piquetera

Difícil ficar quieto quando as ideias transbordam, quando lemos tudo o que podemos ler no fluxo infinito da comunicação, muitas vezes envilecida por um vazio banal, ou por um veneno contido que passa despercebido. Somente por pudor resistimos à tentação de expor nosso tecido de hipóteses, o teatro imaginário de acusações que cada um monta para si, na pulsão por corrigir no âmago da conversa o sempre malogrado papel dos atores visíveis do drama.

Difícil ficar quieto quando as ideias transbordam, quando lemos tudo que podemos ler no fluxo infinito da comunicação, muitas vezes envilecida por um vazio banal, noutras por um veneno que contém e que passa despercebido. Somente por pudor resistimos à tentação de trazer a público as hipóteses tecidas, o teatro imaginário de acusações que cada um monta para si e a pulsão por corrigir no íntimo da conversa com os amigos o sempre malogrado papel dos atores visíveis do drama. Num período pré-eleitoral, fica o que a todos nós incumbe, isso que os analistas chamam “a agenda”.

Parece-me que não se pode ignorar neste plano, por óbvio e em geral, o seguinte raciocínio: o governo, isto é, o kirchnerismo e suas alianças reais chegam a 2015 com um discurso sobre a crise e um programa de estabilização: enquanto os acontecimentos em curso (verdadeira guerra dentro do estado: poder judiciário, forças de segurança, com suas evidentes articulações sociais) tentam impor pelo menos duas consequências imediatas.

Por um lado, se intensifica o aspecto central das políticas mais direitistas do capital, fundadas no caráter ultraopaco da trama entre valorização e violência (difusão do terror e da incompreensão coletiva). Por outro, se tenta consolidar a agenda global hiper-reacionária, fundada na anticorrupção e no antiterrorismo. O próprio kirchnerismo, — com porta vozes como Sergio Berni (entre muitos outros), chave na gestão da estabilização das forças policiais, — mostra as zonas de convergência entre ambas as agendas.

Pode o kirchnerismo retomar a iniciativa com uma agenda democrática neste contexto? Em breve, saberemos. Em todo caso, o que realmente faz falta é a emergência de outra agenda, sustentada por novos sujeitos políticos, proveniente de lutas sociais com traços plebeus destes anos, que recupere — mal ano eleitoral para tentar? — um impulso democratizante decisivo, que desbloqueie, como vem fazendo nos últimos 15 anos, a total estabilização da agenda das elites.

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