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Podemos: Alteridade ou círculo vicioso de poder

Por Raúl Prada Alcoreza, em Dinámicas moleculares, 6/2/15 | Trad. UniNômade Brasil

Primeiro artigo da série escrita pelo professor boliviano de San Andrés, em La Paz, sobre os dilemas e desafios que o Podemos precisa enfrentar para se libertar da forma-partido inserida nos círculos viciosos de poder representativo, em processo de tradução pela UniNômade.

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Nota 1 sobre Podemos

Não se pode perder certamente a perspectiva da diferença e da diferenciação, sobretudo para encontrar as singularidades. Se tomamos a política como campo de forças, essas diferenças ajudam a distinguir sentidos políticos, se não se quer falar de direções e tendências.

Não se trata, de maneira alguma, de negar as diferenças entre o Podemos e o Partido Popular (PP), tampouco entre Podemos e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Sabemos que o Podemos emerge das mobilizações dos indignados e do Movimento do 15 de Maio (15-M). Parte importante das tendências que não ingressaram no Podemos corresponde à perspectiva autogestionária, da democracia direta e participativa, com características antiestalinistas. Compreende-se, também, de onde parte a crítica a essas tendências: emerge da experiência social da história política da modernidade.

Podemos insiste em seguir as mesmas vias dos círculos viciosos de poder, embora apostando em juventude, transparência, honestidade — valores éticos —, como precauções; mas também como premissas que o permitam buscar saídas ao mesmo círculo vicioso do poder. Não sei se esses valores éticos e certa predisposição subjetiva podem salvaguardá-los de evitar a atração gravitacional do poder, obrigando-os a orbitar esse núcleo de dominação, formando um campo de poder, ao que foi reduzida a política, institucionalizada e formalizada, sem poder escapar deste campo e da sedução pelo núcleo de dominações.

Não creio que a discussão deva restringir-se ao dilema de Podemos ou os tradicionais, chamem-nos falangistas matizados (PP), num caso, ou socialistas vergonhosos (PSOE), no outro caso. Se a pergunta fosse tão simples, a resposta é óbvia: Podemos é melhor. Apesar disso, o evento político não se reduz a um ponto; tem sequências, se se quiser, desdobramentos possíveis abertos, ainda que o campo de possibilidades seja forçosamente reduzido ao esquematismo dual de ordem/desordem, instituições/caos, “esquerda”/”direita”, precisamente segundo a ideologia esquemática e moralista da modernidade.

A discussão é: “Vamos seguir a trajetória orbital do círculo vicioso de poder, capturados por suas malhas institucionais?”

 

Raúl Prada Alcoreza é professor e sociólogo e participa do grupo Comuna, na Bolívia.

 

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