Adriano Sofri, 8 de novembro de 2024
Sempre fico surpreso com a prontidão para-hegeliana de tantos dos meus vizinhos em decretar que o que é real, é racional. O triunfo de Trump é real? É racional! E até zombar de qualquer um que levante uma objeção – de objetores de consciência. Consciência? Respondem às gargalhadas. Eles amestram : “você ainda confunde o mundo como ele é com o mundo como deveria ser”. O que querem dizer é que o mundo tal como é coincide com o mundo tal como deveria ser – especialmente desde anteontem. Uma versão peculiar diz respeito ao anti-americanismo ideológico, isto é, ao anti-americanismo como ideal de vida. Aquele que outrora, durante a Guerra Fria, distinguia entre o Pentágono e Aretha Franklin, Harry Belafonte e os B 52, hoje zomba de Kamala Harris e, mais sinceramente, de Taylor Swift, ao mesmo tempo em que sentem que Trump e Musk são racionais, na verdade inevitáveis – antes que o encontrem, Musk, em uma mansão de trezentos quartos com overdose. Os italianos são os mais ligeiros. Fomos os inventores do Arco do Triunfo. Pegamos carona com o vencedor, nem que seja para atirar um sapato velho no vencido. Se pelo menos tivéssemos ganhado um daqueles milhões de dólares que Musk sorteava entre os eleitores todos os dias: nós não! Nós fazemos de graça! Levemos ao máximo o nosso hegelianismo: tudo o que é racional, é real. Que a ninguém seja permitido sentir-se como precisa se sentir. Como uma velha pornstar que enfrentara todos os processos, e tinha chegado à hora da sentença.