Marciò Taschetto
Imagem: Museu Rainha Sofia, Madrid-ESP.
Perto da Guernica, diria até em segredo, perto de toda a condição humana, há uma pequena imagem atribuída a Brecht. Um estranho na noite de Munique. Uma figura alongada na própria solidão, silenciosa. Talvez esteja aquém ou antes do Grito de Munch, não sabemos. Talvez seja o lugar e a hora que encontrou pra sua solidão, não sabemos. Talvez um entre-lugar, entre a imaginação e a cidade que sobra sobre ela, esmagadora e áspera. Ela nos observa com a mesma estranheza das coisas cotidianas, com a paisagem toda a expressar sua angústia. Angústia e paisagem sempre foram irmãs, mas o Expressionismo disse isso primeiro. Ou repetiu o que dissemos para nós mesmos todas as noites em que o estranho conviveu com o familiar. Uma noite estranha acompanha a esquálida criatura. Trata-se de uma imagem pequena quase escondida no vuco vuco dos olhares. Seria uma vítima ou uma testemunha? Não sabemos. O que podemos especular é que corajosamente perscruta o silêncio com o mesmo ouvido mouco de Goya. Escuto uma música que toca ao fundo da sua angústia, que parece tilintar com dedos trêmulos algum instrumento de corda, afogada na própria imagem. Que confortante saber que ainda há uma gota de sol na cidade dessa estranha criatura. Uma única luz. Que pinga entre os prédios que ela mesma construiu. Não esqueçamos, como disse, que está perto da Guernica, mas com uma certa altividade que suponho venha do fundo dos tempos, diz não.