Por Lobo Suelto!, em 23/11/2015 | Trad. Bruno Cava
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De tão banal a cena que começa a desdobrar-se já não se admite sequer a tolerância do fato maldito. Dá vergonha tanta estupidez própria e alheia. Não é questão de eximir culpas, mas encontrar modos de combatê-las. A estupidez não é fenômeno pessoal, mas a todos alcança como fenômeno das sociedades de mercado. A impotência que hoje sentimos é isso. Estupidez neoliberal. Que demonstra, entre outras coisas, que nesses anos em vez de superar o neoliberalismo eles o alimentaram, ainda que de um modo heterodoxo. E por isso o olhar já não alcança mais os modos de vida, como se embaixo houvesse uma verdade inacessível para as alturas. Nem a militância. Não. Já não há astutos, se acabaram os malandros.
Dizer que o sistema político em seu conjunto se blindou numa virada impudica e monolítica à direita é uma obviedade. Basta ver as caras dos principais candidatos para convencer-se disso. Sobretudo o agora presidente eleito. É isto o que nos deixam esses últimos 12, 15 anos? Estamos podres de análises inteligentes que não movem nada! Quando dizemos “direita” nos vemos obrigados a ser precisos: um tipo de insensibilidade que confia as questões de laço social a noções como “empresa”, “fé” ou “polícia”. Nisso está a Argentina hoje. Certamente nem tudo.Mas como fazemos para que este “nem tudo” continue existindo?
Antes de qualquer coisa, nos ocorre agora: encontrando modos de resistir. Ainda de imediato devemos aclarar que, quando dizemos “resistência”, não nos referimos à mitologia com o que sonham de tanto em tanto as militâncias governistas. Estamos saturados desse pseudo-heroísmo retórico tramado da impotência. Referimo-nos sim às resistências concretas no quadro geral de uma convalidação extrema dos mais perigosos (os mais vulgares) impulsos coletivos. É capaz esta direita ultrabanal (e por isso mesmo ultraperigosa) de conceber a ideia de uma trégua, noção que roça a essência da política enquanto prolongamento por outros meios de uma guerra — na medida em que está definida por relações de dominação? Noutras palavras, há que voltar-se a traçar uma linha de demarcação.
O 2001 morreu, viva 2001! que, como sabemos, nunca aconteceu. Não falemos de futuro, as expectativas nos faltam, nas promessas não cremos. Falemos de dignidade e somente disso. E a dignidade é não deixar-se e é hoje ou não é. Nenhuma das chamadas “micropolíticas” nos deixará a salvo deste descalabro político se não entendermos a necessidade urgente de traçar com toda a clareza essa demarcação, essa resistência.
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