Por Mariana Faro, pesquisadora, em 16/3
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Não ponho meu corpo na rua para seguir um caminho predeterminado em defesa de causas que em nada me comovem. Não sigo ao lado de quem aplaude a militarização da vida. Não endosso o moralismo contra políticas de distribuição de renda, nem o conservadorismo diante das políticas afirmativas. Não relevo os julgamentos que criminalizam a pobreza. Não quero fazer parte de qualquer raiva cega e antidemocrática. Não quero tomar parte na indignação seletiva. Não vou abraçar as promessas falaciosas dos salvadores da pátria. Não vou marchar para trás (nem pra direita). Não vou ignorar desigualdades históricas. Não quero defender a manutenção de (meus próprios) privilégios.
Também não entrego minhas palavras, minha vontade, minha saúde para defender um governo que mantém territórios pobres sob ocupação do exército e tratora a vida indígena em nome de um desenvolvimentismo bestial. Não sei defender governantes que são coniventes com a perseguição política de ativistas e com a prisão de Rafael Braga Vieira por porte de Pinho Sol. Não vejo sentido em qualquer adoração partidária e no encastelamento blindado às críticas. Não endosso a soberba militante que só reconhece a Política supostamente esclarecida. Não aceito a perseguição dirigida aos movimentos de esquerda que não seguem a cartilha do poder.
Tampouco me interessa a desqualificação rasa do outro. Não quero vestir a camisa do escárnio que prefere ignorar complexidades. Não consinto com a deslegitimação precipitada das trajetórias que estão nas ruas. Não me divirto com o ataque que não leva adiante e que apenas alimenta uma polarização paranoica. Não vejo sentido na distribuição de rótulos, de coxinha ou de petralha (sic). Não compreendo a agressão generalizada, gratuita e estéril. Não desejo a crítica unilateral para seguir no que aí está. Não quero gritar no vazio, não posso portar a bandeira que alimenta esse vazio. não quero multiplicar qualquer “nós x eles” pernicioso. Não vou apostar nas reformas que trocam seis por meia dúzia. Não quero sacralizar instâncias e entidades representativas como se elas não pudessem ser reinventadas. Quero não precisar obedecer os velhos livros e seguir a política incapaz do diálogo com o muito que se vive aqui e agora. Eu não quero jogar o jogo binário que só interessa àqueles que já ocupam seus lugares quentinhos no poder, afinal.
Não quero tomar parte contra, eu quero construir com.
Estar ao lado deve querer dizer não lutar só por si.