Por Caren Rhoden, escritora, coeditora da revista O Viés
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“existirmos: a que será que se destina?” (c. veloso)
I
esboço, traço torto
curva que abisma no papel sem estrada
negra, da cor igual a branca: magma
marginal e magnânima
esboço que já é um poço
onde a gente molha os pés
agora. Ágora, rua indiscreta,
se despejando incandescente sobre tua fórmula reta.
II
enfeitamos com malabares o delírio da cidade
o ser do ovo explode a casca pra ser asa
na rotina ansiosa bordo enxames:
a vida me cabe, não cabe em um ovo.
III
povo:
o nosso nome é um para todos
com dois braços recolhemos o que não queima, o que não inunda
mas derramam água e ateiam fogo
para que em nossas cabeças descansem suas bundas.