Por Alberto Manconi, no Dinamopress, 25/6/16 | Trad. UniNômade
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As tratativas extenuantes entre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e os dois novos partidos que ingressaram no parlamento depois das eleições de último dezembro — Podemos e Ciudadanos — não permitiram que se formasse algum governo alternativo ao do Partido Popular (PP). Embora depois do referido pleito o PP tenha permanecido no cargo, não obteve a maioria para governar. Em consequência, seis meses depois, estão sendo repetidas as eleições gerais na Espanha.
A campanha eleitoral desta vez parece menos espetacular e os resultados, pelo menos aparentemente, mais previsíveis. A razão de fundo para a menor complexidade deriva no fato que, nas urnas de dezembro, já houve um primeiro indicativo de como vai funcionar o novo sistema tetrapartidário. Ainda assim, são esperados poucas, mas talvez fundamentais, mudanças nos percentuais de cada partido em relação aos resultados do final do ano passado.
A coalizão Unidos Podemos, fruto da “confluência” entre o Podemos e a Esquerda Unida (IU), segundo as pesquisas dos últimos meses, estaria com vantagem estável sobre o PSOE. A “ultrapassagem” confirmaria o sucesso da aliança da esquerda guiada por Iglesias como segunda força no país, assegurando-se um poder de barganha decisivo para a formação de um “Governo da Mudança”, tanto mais se pensarmos que Ciudadanos parece se manter como um fenômeno consistente, porém limitado.
Nesta ocasião, Iglesias e seus companheiros definiram a própria campanha com uma impostação que vai menos na direção do encantamento e mais na do realismo. Este elemento ficou evidente desde a escolha pragmática em aceitar em nome da coalizão um conceito tradicionalmente pertencente ao esquerdismo — a “unidade” — em detrimento de outras denominações que teriam uma conotação bem mais peculiar à história do movimento de Podemos — a referência ao Comum. Some-se a isso a escolha de sinalizar explicitamente um futuro governo de coalizão também compondo com o PSOE, não na forma do tradicional acordo pós-eleitoral entre partidos, mas como reivindicação pública que atravessou a inteira campanha eleitoral e que colocou em oposição inevitável esta possibilidade à da “Grande Coalizão” (PP-PSOE) governista, que de outra forma seria criada.
Não parecem visíveis no horizonte elementos em condições de atrapalhar de maneira decisiva este quadro. À parte do potencial colapso do PSOE — que permanece sempre a incógnita principal — a hipótese nacional-populista de esquerda parece consolidar-se como rearticulação do político, desequilibrando a seu favor o parlamento e o debate público e impedindo o nascimento de um espaço político à direita. Mesmo que a hipótese guia, vencedora e “reencantadora” não pareça realmente conseguir firmar-se no nível do estado nacional, ao menos não em curtíssimo prazo, por outro lado, a melhor perspectiva de um governo de mudança, isto é, tendo Unidos Podemos como ator forte, deveria tomar o cuidado de acertar as contas com um aliado perigosíssimo como o PSOE. Nenhum espaço para um governo completamente novo, como gostaria a clássica hipótese populista, mas um terreno de trabalho para a mudança que, para funcionar, deveria conseguir preencher-se pelas dinâmicas metropolitanas e territoriais, ligar-se programaticamente às cidades rebeldes e às novas formas de movimento e sindicalismo social.
É, assim, o próprio partido que nasceu recusando a etiqueta de “esquerda” que agora propõe bagunçar e ocupar o espaço da social-democracia. Tudo isto, junto e além da estratégia eleitoral, se coloca dentro do desenvolvimento de uma discussão interna teórica que nada tem de acessória: o uso e as interpretações — contrastantes — de Gramsci, como bem referido no artigo de Raúl Sánchez Cedillo. Nesse sentido, essas discussões constituem um terreno decisivo de conflito interno.
Certamente, a solidez do PP segue impressionante, e se verifica imediatamente pelos resultados das pesquisas. Trata-se de uma hipótese política que continua a vigorar “somente” entre eleitores acima dos 60 anos, enquanto Unidos Podemos vence em todas as demais faixas de idade. Entretanto, isto parece bastar ao PP para garantir para si o primeiro lugar no parlamento.
Não somente as gerações jovens não predominam, demográfica e eleitoralmente, na Espanha, como também uma enorme parte desta geração europeia não poderá votar.
De qualquer modo, a situação mais viva e interessante vem, novamente, da prefeitura de Barcelona e da região catalã, onde Em Comum Podemos se afirma cada vez mais como ator hegemônico num território particularmente radical, e onde o independentismo de centro-direita parece sofrer um grande revés. Quanto a isso, num tema propriamente catalão, houve o “escândalo” relativo à publicação de grampos em que o ministro do interior Fernández Díaz ordenava interrogar independentistas catalães, a fim de forjar escândalos e ameaçar a credibilidade do referendo soberanista de 2014. Neste caso, não se trata apenas de corrupção econômica, mas de um exemplo de discurso sistêmico sobre a corrupção que Podemos assumiu e afirmou-o na cena pública espanhola.
Poderia este elemento levar a uma erosão adicional do voto nos partidos do velho regime ou, quanto a isso, já se atingiu um limite máximo? Esta é a pergunta que talvez poderia atuar nos dias finais da campanha sobre aqueles poucos, porém fundamentais, pontos que separam a coalizão Unidos Podemos do PP.
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