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A Globo, o Freixo e os descontentes

Por Cezar Migliorin, professor da UFF, bloga no . Polis + Arte

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Depois do tosco e triste episódio em que O Globo conecta o Marcelo Freixo à trágica morte do jornalista, leio hoje a resposta do deputado no jornal e a acho fraca e no limite ingênua.

O que está em jogo na articulação que a Globo faz entre essa morte, os manifestantes e os políticos é menos um ataque pessoal ao deputado do que um desserviço à democracia e ao jornalismo.

Ao usar o seu espaço para dar explicações, o que o deputado faz é entrar no jogo do jornal. Tudo que parece interessar o Globo é essa disputa pelos meandros do que é fato ou ficção, enquanto a discussão de fundo é sobre o modo como rádio, jornais, sites, TVs abertas e pagas se articulam para produzir verdades fazendo uso de um excesso de poder, nada democrático.

Os absurdos dessa história merecem um reflexão sobre os meios de comunicação, sobre o modo que o jornal desrespeita os jornalistas que até hoje ali trabalham e sobre o país mesmo – com suas organizações de poder e comunicação.

Fora isso, essa tragédia do jornalista, essa vítima óbvia, tem também os próprios jovens como vítimas. Participaram acidentalmente e irresponsavelmente de uma morte, se isso for provado. Parecem ter pouquíssimos recursos argumentativos para se explicarem, foram envolvidos em uma armadilha desejada por um grande meio de comunicação e são defendidos por um advogado que ajuda a incriminá-los. A fragilidade dos jovens veio a calhar para muitos.

Já Freixo deveria antes dizer: minha história não importa diante desse fato com vítimas reais, sobretudo os que até hoje morreram nas manifestações e os que efetivamente tem suas vidas consumidas pelas narrativas jornalísticas! O deputado faz o contrário, individualiza e responde defendendo a sua história. Isso é pouco, ou ele acha que até aqui a sua história dependeu da Globo e agora estaria sob ameaça. Pelo contrário. Talvez não haja mais nada a ser revelado sobre os violentos recursos narrativos utilizados pelo jornal, está tudo ali, explicito.

Não há análise de discurso necessária para entender as operações do jornal. O que importa é a máquina em que ele funciona e faz funcionar, com seus recursos publicitários, conexões com o estado e empresários, políticos etc.

Enquanto isso, hoje, sinto o gosto da derrota ao pagar três reais para pegar um ônibus.

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