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A moeda, a confiança e a Argentina

Bruno Cava
Giuseppe Cocco

 

Bertolt Brecht escreveu a seu amigo Walter Benjamin que “não devemos partir das boas velhas coisas, mas das más coisas novas”[1]. Na hora de fecharmos esse artigo de reflexão sobre o velho enigma da moeda na Argentina, a crise nesse país tomou um novo patamar. Nas eleições ditas primárias do 14 de agosto, o candidato da extrema direta, Javier Milei, desponta em primeiro lugar. As dificuldades de uma aliança no segundo turno entre a candidata do centro-direita e o peronismo tornam a vitória final de Milei muito provável. Para além dos temas mais ligados às guerras culturais, a emergência dessa nova figura do fascismo se destaca por suas propostas radicais em termos de políticas econômica, particularmente com a proposta de dolarização do país. Temos aqui uma percepção imediata da mecânica da catástrofe.

À escolha demagógica explícita, responde-se como se o país já não fosse dolarizado e da pior maneira. Paradoxalmente, Milei “tem o voto dos trabalhadores precários dos serviços, do caixa do supermercado, do motorista do Uber, das empregadas domésticas, dos que têm um emprego, mas cujo salário não lhe permite de viver”[2].

No cerne da crise argentina temos, por um lado, a figura do trabalhador pobre e, pelo outro, a questão da moeda. Nesse artigo queremos tecer algumas reflexões sobre a moeda, os juros, o mercado, na esteira do que fizemos em New Neoliberalism and the Other (2018) e em A Vida da Moeda (2020).

Peso real?

A moeda é tão enigmática quanto o impasse argentino que muita gente atribui a uma sentença do economista Simon Kuznet: a Argentina é um país desenvolvido que se tornou subdesenvolvido[3]. Talvez, uma boa maneira de apreender esse impasse que nenhuma força política consegue ultrapassar seja colocá-la na perspectiva do mistério monetário.

No início de maio de 2023, na Argentina, o dólar paralelo (blue) estava atingindo o nível dos 500 pesos, abrindo uma diferença de 120% para o câmbio oficial[4].  Assim, podíamos ler na imprensa: “Enquanto os turistas estrangeiros fazem a festa em restaurantes, lojas e hotéis de Buenos Aires, os argentinos tentam se desfazer dos pesos o mais rapidamente possível (…)”[5]. A inflação não para de aumentar e chega a mais de 100% ao ano. Ao mesmo tempo que declarava sua renúncia em se candidatar às próximas eleições, o Presidente Alberto Fernández culpava “a direita” argentina pela alta do dólar americano, como se fosse um complô: “Primeiro espalham rumores pela manhã, operam durante todo o dia e, no fim do dia, retiram seus ganhos do mercado cambiário e prejudicam a poupança da maioria dos argentinos e argentinas”[6]. Na tentativa desesperada de evitar amplificar a inflação, o governo tenta não emitir notas de valor superior a mil pesos (que equivale a pouco menos de US$ 2,00) e os bancos não sabem mais como armazenar a quantidade exageradas de cédulas que essa medida acarreta. Ainda assim, no fim de maio, começavam a circular as notas de dois mil pesos,[7] em uma economia subdigitalizada na qual, segundo estimativas, praticamente metade das operações comerciais ainda se realiza com bilhetes físicos.

No final de julho de 2023, o dólar blue estava a $ 553. A brecha cambiária (entre o paralelo e o oficial) chega assim a 103%, e isso no meio na incrível multiplicação de tipos de dólares: o dólar agro (que substitui o dólar soja 3), dólar poupança, dólar financeiro etc.[8].

Não faltam comentários e antecipações. Em 2012, um ex-chanceler brasileiro escrevia: “O governo de Cristina (Kirchner) tem emitido sinais de que está determinado a continuar em seu curso errático, não apena criando caos na economia, mas também marginalizando o país aos olhos da comunidade internacional. E decisões como essa sempre terminam mal[9]. Em 2018, no momento do governo Macri, o diagnóstico não era muito diferente: “Ao contrário de (Michel) Temer (no Brasil), Macri optou por um ajuste gradual. (…)”. Assim, “a Argentina aproveitou a reconquista de um certo prestígio na comunidade financeira internacional para captar no exterior a impressionante soma de US$ 100 bilhões”. O país queria acelerar o crescimento, mas tinha “duas restrições já na largada: déficit em conta corrente (5% do PIB) e inflação (25%)”[10]. A confiança não apareceu com o governo peronista de Cristina, tampouco com o governo ortodoxo de Macri, e continuou sem dar as caras no governo de Fernández.

A economia argentina desafia também a Modern Money Theory de L. Randall Wray, segundo a qual “estados que emitem seu dinheiro não podem quebrar”: “não faz diferença se a moeda é fraca ou forte, contanto que exista a possibilidade de emiti-la. O que importa é se o governo pode exigir impostos, isto é, que seja um governo com soberania”[11]. Pelo visto, o comportamento dos argentinos não cabe nessa sentença.

Os economistas de esquerda resolvem o impasse por meio de dois atalhos: por um lado, atribuiu-se a responsabilidade ao FMI; pelo outro, pela afirmação tautológica de que “en los países dependientes la moneda nacional está afectada por una gran vulnerabilidad y debe contar con el respaldo de alguna divisa extranjera para poder lograr una circulación efectiva”. “Así”, explica-se, se “en los países avanzados, (…) el dinero del Banco Central está en vértice del sistema monetario”, nos países dependentes, “el vértice es ocupado por una divisa (extranjera) fuerte”[12]. Atribui-se à dependência o fenômeno da… dependência!

A questão nos parece ser outra: por que um país como a Argentina não possui um sistema monetário cujo vértice seja o Banco Central da República Argentina?

O fato de não ser uma economia “central” (ou avançada) não o explica: basta olhar para o grande vizinho, o Brasil, e descobrir uma economia emergente que – com todas as suas dificuldades – dispõe de um sistema monetário nacional. Não é por acaso que, logo depois de eleito, mesmo antes de tomar posse, Lula visitou o presidente da Argentina. Tratava-se de retribuir a solidariedade que Fernández havia manifestado quando Lula estava preso, mas sobretudo de apoiá-lo diante das grandes dificuldades pelas quais a Argentina passa. Em maio, foi a vez de Fernández visitar Brasília tentando obter um apoio, embora sem resultados: “el gobierno volvió de Brasil con la manos vacías y el fracaso del dólar-soja extrema la dependencia con el Fondo (Monetario Internacional)”, podíamos ler[13]. E isso apesar de, em janeiro de 2023, os dois presidentes terem assinado um artigo no qual veicularam a proposta da constituição de uma “moeda sul-americana comum”[14]. Nas falas de Lula, o objetivo dessa moeda é de “diminuir a dependência do Dólar americano”[15].

Nas entrelinhas, ou até mesmo explicitamente, a ideia é dizer que a responsabilidade pela situação monetária e inflacionária da Argentina (e as dificuldades do Brasil) seria do dólar americano. O próprio Bolsonaro, em 2019, tinha falado de uma nova moeda que teria se chamado peso real: junção de Peso (argentino) com Real (brasileiro)[16]. Diante das polêmicas e perplexidades, foi logo esclarecido que não se tratava de uma “verdadeira” moeda, mas apenas de uma “unidade de conta”[17]. Ironicamente, explicou-se que o “peso real” não seria uma moeda real. O fato é que o governo argentino procurou a ajuda brasileira pelo fato de o Brasil ter a moeda que a Argentina não consegue ter. A moeda brasileira é fruto de um combate épico contra a inflação, que se travava desde o final da década de 1980, e teve até mais significado que a constituinte de 1988, ou a queda do muro de Berlim: foi uma “longa luta de um povo por sua moeda”[18]. Foram sete anos de “estabilização”, entre o Plano Cruzado (1986) e o Plano real (1994), durante os quais a moeda estava na ordem do dia. A especificidade brasileira é de ter conseguido, com altos e baixos, manter essa “conquista” ao longo das duas primeiras décadas do novo século, até hoje[19].

Ao mesmo tempo que multiplicava as viagens internacionais e as declarações pró-russas sobre a guerra da Ucrânia, o Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem se dedicado a criticar o “mercado” e o dólar americano. O “mercado” é acusado de reagir negativamente à sua vitória eleitoral. A culpa seria do Presidente do BC que, graça à independência, estava mantendo a taxa de juros elevada demais[20][21].  Quando parecia que as polêmicas com o “mercado” e o Banco Central seriam substituídas pelo debate sobre a nova “âncora fiscal”, Lula voltou ao ativismo internacional. Visivelmente influenciado por círculos simpáticos à Rússia putinista e à China de Xi Jinping, Lula mandou seu assessor especial (Celso Amorim) se encontrar com Putin em Moscou e convidar Lavrov a Brasília. Ele mesmo viajou para Pequim onde multiplicou as declarações pró-Rússia e antiamericanas: “Todos os dias acordo me perguntando por que a moeda internacional tem que ser o dólar americano”[22]. A isso seguiu a indicação que o Renminbi chinês se tornaria a moeda para as trocas comerciais entre Brasil e China[23]. As declarações de Lula lhe valeram a caracterização como “o líder global que mais menosprezou a liderança americana”[24]. Com efeito, uma nota do Federal Reserve  sobre o futuro do papel dominante do Dólar norteamericano cita “o acordo entre Brasil e China para permitir às empresas dos dois países o estabelecimento de trocas libeladas em suas moedas domésticas no lugar do dólar” como uma tentativa chinesa de promover o Renminbi[25].

Essa breve reconstituição de narrativas cruzadas entre a crise Argentina e as ambições brasileiras nos permite apreender alguns dos paradoxos da situação. Ao passo que os governos (Fernández e Lula) querem se livrar do dólar, as populações (particularmente na Argentina), querem se livrar das moedas locais. No caso da Argentina, se trata de algo endêmico. Há décadas, ninguém confia na moeda soberana a ponto de se falar abertamente em uma Argentina bimonetária[26].

A ideia de Lula e Fernández é que limitando o “poderio” do dólar se conseguiria, na Argentina, substituí-lo com a divisa nacional (o Peso) e, no Brasil, fazer o milagre de baixar a taxa de juros sem que o Real se desvalorize. Podemos facilmente ver nesses raciocínios duas ideias básicas: a primeira é que os problemas internos são determinados por dependências externas (o imperialismo norteamericano continua carregando  essa pecha apesar de a China ser o país do qual Argentina e Brasil hoje mais dependem); a segunda é que o poderio do dólar (quer dizer, dos Estados Unidos) estaria em declínio.

Mas, será mesmo que o dólar americano é a origem dos problemas argentinos com sua moeda e das frustrações brasileiras com o seu crescimento? Mais ainda, é verdade que estamos assistindo ao declínio do dólar e dos Estados Unidos? Antes disso, tentemos pensar o enigma da moeda.

O mistério do fenômeno monetário

Ideologicamente, Lula e Fernández são figuras políticas pós-guerra fria, e por isso deveriam serem imunes ao binarismo primário daquele período. Mas não é o caso. Por um lado, o terceiromundismo se mantém binário e antiamericano. Por outro, a atribuição dos problemas internos (bem como sua quimérica solução) a um fora a ser ultrapassado (o dólar) ou desejado (o renminbi chinês) é sempre uma boa maneira de se eximir diante da incapacidade de apontar para os verdadeiros desafios.

Há um duplo mecanismo estrutural na base dessas simplificações: uma percepção moralista e fundamentalmente reacionária da moeda e, mais em geral, a tendência antropológica de pensar que o suporte (de alguma coisa) constitua seu verdadeiro valor, um valor que seria uma substância, um lastro material, uma “realidade” verdadeira, algum metal precioso. Lembremos, Marx definia o valor da moeda a partir do tempo de trabalho necessário a produzir seu suporte em ouro[27].

Nessas simplificações vivem ao mesmo tempo o mistério da moeda e o enigma da política. Quanto mais o suporte é tomado como substância e valor da moeda, mais se acredita que no fundo a fonte do valor é o metal e a fonte da riqueza é a própria moeda: os Estados Unidos são o país mais poderoso porque tem o dólar. Por consequência, o poderio militar americano é uma questão de volumes de dólares gastos. Pode parecer uma caricatura, mas é isso que está por baixo do discurso do Presidente da Eritreia durante a cúpula entre Rússia e África em Moscou de julho de 2023: “os Estados Unidos não produzem nada, apenas (sic) imprimem moeda”[28]. O “imperialismo” americano seria, então, fruto desse poderio militar fomentado pelo dólar e, claro, efeito do fato que o dólar é a moeda dominante em nível internacional. O que transformaria o papel impresso norteamericano em poder seria, pois, seu poder, e vice-versa. Por que então a Argentina ou o Brasil não poderiam imprimir Pesos e Reais e assim se emancipar do dólar? Porque, diz-se, o dólar é a moeda dominante internacionalmente. A explicação é circular: o dólar é dominante porque domina. E domina porque é dominante.

Quando o governo Biden anuncia alguns bilhões de dólares de ajuda militar e humanitária à resistência ucraniana contra a invasão imperialista russa, alguns tempos depois chegam à Ucrânia armas e outros recursos em volume e quantidade conformes ao anunciado. Contrariamente ao que pensa o presidente da Eritreia, o poder do dólar gasto nos Estados Unidos está no fato de efetivamente produzir bens (serviços, armas, vacinas, invenções). Esse poder não significa, contudo, que a vitória ucraniana seja garantida: ela depende também da mobilização das ucranianas e dos ucranianos (basta lembrar o desfecho da guerra no Afeganistão).

O fato é que se o mesmo dólar fosse gasto em outro lugar, por exemplo na Argentina, ele não produziria esses bens e serviços: viraria inflação, subsídios a determinados segmentos industriais ou a projetos neodesenvolvimentistas.

Declínio do Dólar Americano?

Na China, em abril de 2023, Lula perguntou sob aplausos: “Por que não podemos fazer comércio internacional baseado em nossas moedas nacionais? Quem decidiu que o dólar (americano) tem que ser a moeda que substitui o padrão ouro?”[29].

Juntamente com o recorrente desprezo pela democracia[30], a ignorância do fenômeno monetário amplifica a circulação de uma moeda que podemos definir como falsa: ela explica tudo em termos de dominância (a ser combatida) do dólar americano e de conflito (a ser desejado) entre o “Ocidente” e o resto do mundo (entre “the West and the Rest”). A guerra russa abriria enfim o caminho à emergência geopolítica de uma alternativa à hegemonia norte-americana. Essas declarações e intenções pressupõem que o declínio do “império americano” não apenas já estaria acontecendo, mas que é desejável enquanto tal: isso abriria automaticamente o caminho a uma melhor governança do mundo.  A emergência econômica da China, juntamente com o renascimento do imperialismo russo, seria uma bifurcação positiva para países como o Brasil e a Argentina. A não adesão de China, Índia e Brasil (e de muitos outros países) às sanções contra a Rússia parece ser uma demonstração do isolamento dos Estados Unidos e do Ocidente[31]. Além disso, o bloco dos Brics colocaria em pauta a construção de uma moeda comum[32]. Até a multiplicação de golpes e tiranetes no Sahel da África é saudada como se fosse uma ulterior etapa emancipatória.

Estamos realmente assistindo ao declínio do dólar americano? Esse declínio é automaticamente uma boa notícia para o Global South e mais particularmente para a América do Sul?

O tema do “declínio” das civilizações é muito antigo e, em geral, é um dos principais vetores das narrativas reacionárias. No que diz respeito ao dólar, também é uma narrativa bem antiga que está sendo retomada e amplificada depois do começo da agressão russa, nas críticas do apoio americano à resistência ucraniana e particularmente das sanções econômicas[33]. Não é preciso procurar em Moscou, em Pequim ou em Brasília por esse tipo de análises. Elas proliferam nos Estados Unidos no campo pacifista, bem como no do realismo em relações internacionais, ou da extrema direita trumpista[34].  O fantasma da república de Weimar tem sido agitado: o dólar americano estaria se tornando papel sem valor, como o Deutsche Mark da república de Weimar nos anos 1920. Robert Kiyosaki escreveu que o dólar vai se tornar papel higiênico[35]. Peter Schiff sugere que é preciso se livrar agora dos dólares diante das decisões tomadas por vários países de substituir o dólar americano como reserva e padrão de valor[36].

É uma velha história. Durante a crise da dívida soberana na Europa, em 2010 e 2011, havia uma multiplicação de comentários que faziam da liquidez chinesa a solução[37].

Pensemos também no “martírio do doleiro”, ou seja, na carta irônica que Moacyr Scliar escreveu em 1996 ao economista Rüdiger Dornbusch, que previa o fracasso do Plano Real em dois ou três anos: “Veio o Plano real e o dólar, que era uma moeda forte, debilitou-se. De uma hora para outra, já não comprava mais nada. O país continuou pobre, mas o dólar perdeu força”[38].

O fato é que o declínio dos Estados Unidos e do dólar está longe de ser um fato consumado e tampouco consumível, no sentido que alguma decisão soberana, como essas que sonha Lula, possa acelerar. Em 1990, a economia norte americana pesava 25% do PIB global. Em 2022, ela ainda pesa … 25%. Lembramos, também no início dos anos 1990 a ideia era que um país asiático teria se tornado o novo centro hegemónico do mundo. Os “declinistas” previam que seria a vez do Japão e do iene ocupar o lugar dos Estados Unidos e do Dólar. Em 1999, o economista Joseph Leddet escreveu um artigo no Wall Street Journal que previa um “mundo dividido assim: 40% para o dólar, 30% para o euro e 30% para o iene”[39].

Mas, entre 1990 e 2022, ao passo que o PIB do Japão cresceu 25%, o dos Estados Unidos aumentou em 118% (e o da França 60%). Se olharmos para o crescimento de trabalhadores adultos, os Estados Unidos continuam à frente: o Japão aumentou 45% e os Estados Unidos 60%. Em termos de riqueza produzida por hora de trabalho, a América cresceu 63%, o Japão 42% (a França 40%)[40]. Para Tyler Cowen, não faz sentido os Estados Unidos “entrarem em pânico sobre a ‘desdolarização’ quando 88% das trocas comerciais internacionais envolvem a moeda americana (31% em Euro e 7% em Renminbi)”.[41]

A substituição do dólar como moeda internacional está longe de estar acontecendo e a moeda que eventualmente ocuparia um novo espaço é o Euro. Contudo, nosso problema aqui não é decidir sobre essas previsões. As questões que importam são outras: os problemas monetários da Argentina diminuirão com essa eventual mudança? Se for assim, as decisões voluntaristas poderão determinar essas mudanças de moedas internacionais? No que diz respeito à primeira questão, é preciso lembrar que a moeda que teria chances de desafiar o dólar seria, no curto prazo, o Euro, e no longo prazo, o Renminbi chinês.

Oras, admitindo que isso aconteça, seria isso um fenômeno positivo enquanto tal para as economias emergentes? Podemos ver o que está acontecendo com os países pobres que se endividaram junto à China. Um dos maiores riscos de crise financeira internacional está ligado ao fato de que muitos países pobres não conseguem pagar as dívidas que contraíram com a China, e que essa está sendo muito mais rígida e inflexível que o “diabólico FMI”.  A China é o maior credor bilateral do mundo: países como Equador, Argentina são fortemente endividados com a China[42]. Se trata de 1 trilhão de dólares emprestados a cerca de 150 países pobres.

Mas agora que o risco que eles tomaram está indo mal, os credores chineses parecem não ter interesse em engolir perdas para “manter boas relações com as nações devedoras”[43]. Todo o mundo conhece a convulsão social e política pela qual passou e passa o Sri Lanka, mas poucos sabem sobre o papel que teve a inflexibilidade chinesa em cobrar a dívida[44]. O Laos é outro país que atravessa uma situação difícil por causa do endividamento com a China[45]. Essa situação envolve hoje cerca de 56 países que estão com risco de default, e gastam boa parte de seu orçamento para pagar os juros da dívida. A China passou, assim, de US$ 80 bi de investimentos no exterior a menos de 10 bi: hoje, ela recolhe mais pagamentos do que envia aos países em desenvolvimento[46]. Se a emergência da China como ator global é inegável, nada diz que a hegemonia eventual de sua moeda teria efeitos automaticamente positivos para os países mais pobres e para aqueles que atribuem ao dólar americano seus problemas.

De toda maneira, a China tem hoje uma força monetária enormemente inferior àquela comercial, e isso porque o Renminbi é rigidamente controlado pelo governo central, e o “mundo” não tem nenhuma vontade de se colocar nessas mãos.

Mas a verdadeira questão é outra, e diz respeito ao papel dessa dominância do dólar como âncora monetária internacional. Como o explica muito bem Michael Pettis, para que o “reino do dólar” acabe, é preciso que algum país ou grupo de países consiga desempenhar o papel dos Estados Unidos, aceitando deixar o capital fluir livremente e absorver os desequilíbrios da poupança (ou da demanda) do resto do mundo: “Nenhum outro país antes dos Estados Unidos desempenhou – nem de longe – esse papel (…). (E isso) porque nenhuma outra moeda tem dominado o comércio internacional e o fluxo de capitais da maneira que o dólar o faz hoje”[47]. Para desempenhar esse papel, os países que gostariam de fazê-lo deveriam passar por mudanças disruptivas de seus sistemas financeiros, pela destruição doméstica da renda, eliminando o controle de capitais e assim prejudicando suas exportações. A resposta à pergunta de Lula sobre “quem decidiu” que o dólar é a reserva global é, diz Pettis, irônica: “foram os excedentes comerciais do Brasil e da China”. Apesar “do que dizem seus líderes, nenhum desses países está com pressa para virar de ponta cabeça o sistema atual”[48].

A linguagem da moeda e a crise argentina

Chegamos assim à questão de saber se as decisões políticas que pretendem acelerar o declínio do dólar e determinar sua substituição tem chances de dar certo. A primeira dúvida pode ser inspirada diretamente na situação argentina: os argentinos e as argentinas não confiam em sua moeda nacional e usam o dólar americano para sua poupança e para os investimentos[49]. Com a volta da inflação, até a função de meio de pagamento do peso entra em crise. Será que esse comportamento velho de décadas e praticamente indiferente aos ciclos políticos vai mudar, e os colchões argentinos vão passar a se preencher de reais brasileiros ou de Renminbi chineses?

Com efeito, a preferência argentina pelo dólar é um habitus: ninguém a decide, e ninguém conseguiu encontrar como mudá-la. Para entender como funciona um habitus, vale a pena pensar nas línguas. Recentemente (abril de 2023), a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte – capital de Minas Gerais, terceiro estado mais importante do Brasil – aprovou um Projeto de Lei que proíbe o uso da linguagem neutra nas escolas do município. Mesmo que a lei corra o risco de ser julgada inconstitucional, vamos supor que ela seja promulgada. A pergunta é: essa Lei vai ter algum efeito? Muito provavelmente a Lei não teria efeito porque sequer há o que combater. Como escreveu um colunista, “qualquer ação para impor entraves ou transformações no idioma por meio de decreto será ineficaz”[50]. Não é assim que funcionam as línguas. “A língua não muda de fora para dentro, nem de cima para baixo: ela muda porque nós mudamos”[51]. Nada diz que a guerra cultural dos termos neutros consiga emplacar e que a oposição tenha algo a combater. Mas se algum termo emplacasse, de nada adiantaria proibir seu uso. As línguas mudam e fluem, mas o fazem de maneira imanente e imprevisível: por desvios, pelos erros aos milhões dos quais falava Oswald de Andrade. No Brasil do final do século XIX tentou-se expulsar do português os estrangeirismos – exatamente como Giorgia Meloni está tentando fazer na Itália, e sempre se tentou fazer na França: o futebol de Pelé deveria passar a se chamar ludopédio.

Por que estamos a falar de língua? Porque a moeda flui e funciona como uma língua. Lembremos da sentença que diz: “a língua é um dialeto que possui um exército e uma marinha”[52]. Parece, pois, que a língua – como a moeda – é uma realidade soberana, decretada pelo poder. Mas, na realidade, a fonte da sentença é obscura e incerta. A própria fortuna da sentença é mais um efeito de circulação que da autoridade da reflexão teórica da qual ela teria derivado. O que interessa é a circulação, o desvio, a plasticidade que permite a uma língua fluir em um determinado espaço – corresponda ele, ou não, a um espaço soberano. Isso não significa que não haja nenhuma relação entre língua e soberania, assim como entre moeda e soberania; mas que essa relação, por um lado, não explica nem o funcionamento da língua, nem o da moeda e, por outro lado, que determinadas línguas e determinadas moedas podem circular para além desses espaços.

Língua e moeda se explicam reciprocamente. Pensemos na situação corriqueira de termos que explicar a um correspondente europeu o custo médio de um aluguel na região central de Buenos Aires ou de São Paulo. Não adiantaria muito dizê-lo em pesos ou em reais e ainda menos em Renminbi. Mas, se o dissermos em dólar, todo mundo compreenderá – não apenas na Europa, mas em qualquer lugar do mundo, inclusive na China. Imaginemos agora que um europeu tenha que preparar uma viagem, um tour, em dois ou três países da América Latina. Ele deverá pensar em como ele se comunicará, e como ele pagará suas contas: um controle relativo do espanhol lhe permitirá se comunicar desde Ushuaia até El Paso e além, em quase todas as cidades dos Estados Unidos. O espanhol constitui como que uma moeda quase comum nas Américas. Mas, curiosamente, para pagar suas contas, nosso viajante não encontrará o equivalente do espanhol, e deverá pensar na moeda que todo o mundo aceita, em qualquer país das Américas: ele pensará em usar o dólar, uma moeda que ele poderá cambiar em qualquer país na respectiva moeda e, em alguns países, sequer precisará cambiar. Ele usará também seus cartões de crédito, e realizará pagamentos que lhes parecerão em divisa local, mas serão emitidos em dólar ou em Euro, sendo que as 3 principais empresas que oferecem o serviço internacional de cartões são norte-americanas. Vamos agora supor que nosso viajante não entenda nem fale suficientemente o espanhol: o que ele fará? Ele usará o inglês, e isso lhe permitirá possivelmente resolver a maior parte de seus problemas de comunicação. O inglês funcionará exatamente como o dólar, e isso não apenas na América Latina, mas praticamente no mundo todo. A língua é uma divisa porque a divisa é uma língua.

O que é importante enfatizar é que, na medida em que ninguém decidiu que seja assim, é muito difícil que alguém consiga decidir que não seja assim. As tentativas de afirmar uma outra hegemonia aconteceram bem antes das ilusões terceiro-mundistas, entre as antigas potências coloniais (Reino Unido, França) e os Estados Unidos. O Reino Unido viu a (Libra Esterlina) perder o estatuto de moeda internacional ao passo que o inglês foi se tornando a língua universal: o inglês universal não é o da Inglaterra, mas alguma outra coisa feita da contribuição de um sem-número de erros, acentos e desvios. Em qualquer país se pode pensar em encontrar alguém que a fala ou a lê de modo inteiramente funcional, mesmo que limitada e erradamente quando comparada ao Inglês standard.

Ainda em 1967, em um artigo clássico, Charles P. Kindleberger discutia exatamente a relação entre língua e moeda diante das críticas que o dólar recebia da esquerda radical (um artigo da Monthly Review) e da França gaullista (o economista Jacques Rueff). O caso da França era particularmente interessante, pois envolvia ao mesmo tempo o papel do dólar e o da língua francesa. É uma sempre atual: por exemplo, em um artigo recente, vários autores criticam o uso do inglês nas comunicações científicas (e o artigo é … em inglês!)[53].

Para Kindleberger se tratava de uma lógica de prestige. Uma lógica duplamente ineficaz: porque o padrão-dólar já aparecia como o mais eficiente economicamente, e porque a tentativa institucional de manter o francês como língua oficial nas instituições internacionais não tinha chances de sucesso: para um anglo-saxão, aprender o francês não era nenhuma necessidade, ao passo que que para os franceses era necessário aprender o inglês. Há um monte de analogias que nos interessam nesse artigo, mas a mais importante é aquela entre “o dólar na economia internacional e o uso da língua inglesa nas instituições internacionais”[54]. O inglês, diz Kindleberger, é “a moeda da comunicação internacional”. Nesse sentido, é “de alto interesse para os americanos e britânicos conhecer o francês, alemão, italiano, espanhol (…). Mas, a eficiência mundial é realizada quando todos os países aprendem a mesma segunda língua, exatamente como na Índia pós-colonial, onde as diferentes nacionalidades usam o inglês como língua franca”[55]. A segunda língua que consegue ser comum não é nem imperialista nem nacionalista, mas eficiente. A mesma coisa vale para a moeda. Mais ainda, isso não é fruto de nenhuma decisão centralizada: “O poder do dólar e o poder do inglês representam la force des choses e não la force des hommes”.

Por força das coisas se entende algo que se constrói na multiplicidade das pequenas decisões tomadas todos os dias. Gita Gopinath e Jeremy Stein o dizem nesses termos: o dólar é usado amplamente porque ele é usado amplamente[56]. Isso faz com que uma língua ou uma moeda sejam líquidas: todo o mundo confia que será compreendido, e que ele poderá passar adiante a moeda que aceitou de receber. Essa tautologia é produtiva.

É esse mecanismo autoreforçado é que define a moeda e explica por que ninguém quer o peso na Argentina: porque ninguém o quer. A confiança foi quebrada e requebrada – particularmente com os vários corralitos – e ninguém consegue, qualquer seja a orientação política, reconstituí-la. “Aqui, diz um incorporador portenho, se você não vê mesmo o dinheiro, ninguém assina nada”[57]. O que os argentinos mais gostam de comprar são os dólares americanos: segundo estimativas do Banco Central da Argentina, as famílias e as empresas não financeiras argentinas guardam algo como US$ 260 bilhões em moeda americana (a maioria em contas de bancos no exterior)[58]. Enquanto isso, em meado de agosto de 2023, as reservas em dólares do Banco Central Argentino não chegavam a 24 bilhões.[59]

O papel e a importância do dólar (e do inglês) não inviabilizam – sublinha Paul Krugman – que na Europa se use o Euro e na França se continue falando francês[60]. Talvez um dia um o Euro passe a ocupar um espaço maior, ou as pessoas passem a usar o mandarim como segunda língua comum no mundo. Mas isso não vai ser fruto de uma decisão: nenhum plano funciona se ele não nasce e é validado na vida das decisões tomadas no diaa-dia (aquilo que é chamado de “mercado”). Por enquanto, a Inglaterra decidiu sair da União Europeia (com o Brexit) e o inglês está se firmando como a língua franca nas instituições Europeias.

A confiança está na democracia

Curiosamente, em seu artigo, Kindleberger afirma que as políticas monetárias internacionais são análogas às das forças de paz. Isso no sentido que elas precisam ao mesmo tempo de acordos multilaterais e bilaterais, particularmente no equilíbrio entre a Assembleia das Nações Unidas e o Conselho de Segurança. Kindleberger mobiliza vários exemplos dessa articulação entre bilateralismo e multilateralismo, como quando os Estados Unidos agiram sozinhos, mas com o apoio dos países em desenvolvimento, contra os britânicos e os franceses que tinham ocupado o canal de Suez (em 1956). Um outro caso bem interessante é o da UNRRA (em 1945)[61], ou seja, uma situação na qual os Estados Unidos, tendo apenas um voto em meio a 17 membros, tiveram que prover ajuda à Bielorrússia e à Ucrânia, apesar de a URSS estar entre os países doadores e não recebedores da ajuda. A URSS stalinista usava a soberania da Ucrânia e da Bielorrússia para conseguir “dólares americanos”. Isso nos leva diretamente à situação atual: ao passo que não se sabe por que uma eventual e improvável moeda internacional (o Renminbi) deveria ser melhor que o dólar, o esforço deveria ser de se mobilizar ao lado da resistência ucraniana e de sua soberania, bem como do lado constituinte e radicalmente democrático que o dólar possui. As ucranianas e os ucranianos lutam contra a moeda falsa do imperialismo russo, e nesse momento a moeda chinesa está do lado dessa falsificação.

As sanções contra o agressor russo não enfraquecem o dólar. Ao contrário, com essas sanções e a mobilização junto à resistência ucraniana, o dólar americano se reforça e fecha (ou tenta fechar) as brechas abertas no período de incerteza constituído pela administração de Donald Trump e as guerras de George W. Bush. A pujança da democracia é a base da confiança e, pois, da moeda.

Argentina e Brasil deveriam investir na moeda da democracia.

A democracia é a moeda (e a língua) que Argentina e Brasil deveriam ajudar a circular.

[1] Walter Benjamin, Essais sur Bertolt Brecht, Paris, Maspero, 1969, p. 149. Citado por Carlo Ginzburg, Il filo e le trace. Vero falso finto (2006). Quod Libet, Macerata, 2023, p. 15.

[2] Martín Rodriguez, “Qué se escucha?”, Panama, 17 de agosto de 2023, https://panamarevista.com/que-se-escucha/

[3] A sentença de Kuznet parece ser apócrifa, mas, com diz Mathew Yglesias, é boa demais para ser abandonada: os quatro tipos são: “desenvolvidos, subdesenvolvidos e depois o Japão e a Argentina”, ver https://slate.com/business/2012/04/the-four-types-of-economies-and-the-global-imbalances.html

[4] Depois de ter chegado a 497, fechou em 495 no dia 26 de abril de 2023.

[5] Se desfazem dos pesos para evitar os efeitos do ulterior aumento dos preços. Janaina Figueiredo, “Peso derrete, e Argentina se torna o paraíso dos turistas”, O Globo, 28 de abril de 2023, p. 17. Itálico nosso.

[6] https://elpais.com/argentina/2023-04-25/el-gobierno-argentino-denuncia-un-ataque-contra-el-peso-tras-dos-dias-de-furia-cambiaria.html

[7] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/05/mergulhada-em-inflacao-argentina-lanca-nota-de-2000-pesos-equivalente-a-r-20.shtml

[8] Annabella Quiroga, “Las incertidumbres y las medidas cambiarias presionan sobre el dólar bluey lo llevan a $ 553”, El Clarín, 27 de julho de 2023.

[9] Luiz Felipe Lampreia, “Argentina, a marginalizada”, Valor, 7 de maio de 2012.

[10] Cristiano Romero, “Um mundo perigoso para a Argentina”, Valor, 9 de maio de 2018.

[11] “L. Randall Wray: Uma nova visão sobre a moeda”, Entrevista com Diego Viana. Valor, 22 de novembro de 2019.

[12] Guillermo Gigliani, “El valor del dinero”, Realidad Economica, n. 234, Instituto por el Desarollo Economico, Buenos Aires, 2008, https://www.iade.org.ar/articulos/el-valor-del-dinero

[13] Diego Genoud, “Alguien que se haga cargo”, La política Online, 6 de maio de 2023. Dispovel em https://www.lapoliticaonline.com/diego-genoud/diego-genoud-alguien-que-se-haga-cargo/, consultado el 3 de agosto de 2023.

[14] https://www.perfil.com/noticias/opinion/relanzamiento-de-la-alianza-estrategica-entre-argentina-y-brasil-por-alberto-fernandez-y-luiz-inacio-lula-da-silva.phtml, consultado el 2 de agosto de 2023.

[15] https://www.moneytimes.com.br/lula-confirma-moeda-comum-com-argentina-para-nao-depender-do-dolar-em-relacoes-comerciais/

[16] https://oglobo.globo.com/economia/apos-bolsonaro-falar-em-peso-real-guedes-diz-que-moeda-comum-com-argentina-ainda-uma-ideia-23723644

[17] https://bolle.substack.com/p/o-que-e-a-moeda-comum-em-discussao

[18] Miriam Leitão, A Saga Brasileira. A longa luta de um povo por sua moeda, Record, Rio de Janeiro, 2011.

[19] Cf. Bruno Cava, “O Dinheiro Possível”, Resenha de André Lara Resende, Consenso e Contra Consenso: por uma economia não dogmática, Portfólio- Penguin, 2020, em Lugar Comum, n. 66, 2023, disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/lc/article/view/58514, consultado no 3 de agosto de 2023.

[20] Há um gigantesco debate sobre o uso da taxa de juros para controlar a inflação ou a necessidade de ultrapassar essa técnica “perigosa”. Vide Jean-Claude Meyer, “Les graves effets de la hausse des taux”, Le Monde, 25 de março de 2023.

[21] Tendência invertida no dia 2 de Agosto de 2023, com a decisão de baixar a taxa de juros de 0,5%. https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/08/02/copom-corta-taxa-basica-de-juros-selic-cai-de-1375percent-para-1325percent.ghtml

[22] https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lula-critica-uso-do-dolar-e-defende-moeda-unica-para-transacoes-entre-paises-dos-brics/

[23] https://www.cnnbrasil.com.br/economia/operacoes-comerciais-entre-brasil-e-china-sem-uso-de-dolar-devem-ter-inicio-em-julho/

[24] David Wallace-Wells, “Is the World Really Turning Away from the United States?”, The New York Times, 20 de abril de 2023.

[25] Cf. Carol Bertaut, Bastian von Beschwitz and Stephanie Curcuru, “The International Role of US Dollar”, Post-Covid Edition, Fed Notes, 23 de junho de 2023.

[26] Emilian Libman, Juan Martin Ianni, Guido Zack, “Argentina bimonetaria: cómo salvar al peso sin morir en el intento”, 17 de abril de 2023. Fundar, disponível in https://fund.ar/publicacion/argentina-bimonetaria/, consultado el 3 de agosto de 2023.

[27] Cf. Guillermo Gigliani, Cit.

[28] https://twitter.com/upholdreality/status/1685077255477739520

[29] “Lula defende que países usem suas próprias moedas no comércio internacional e não mais o dólar”, O Globo, 13 de abril de 2023, https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/04/13/lula-defende-que-paises-usem-suas-proprias-moedas-no-comercio-internacional-e-nao-mais-o-dolar-americano.ghtml

[30] Luca Schroeder e Ana Patrícia Alves, “Lula diz que conceito de democracia é relativo”, CNN Brasil, 29 de junho de 2023, https://www.cnnbrasil.com.br/politica/conceito-de-democracia-e-relativo-para-voce-e-para-mim-diz-lula-ao-responder-sobre-eleicoes-na-venezuela/

[31] David Miliband,The World Beyond Ukraine. The Survival of the West and the Demand of the Rest, Foreign Affairs,18 de abril de 2023. Disponível in https://www.foreignaffairs.com/ukraine/world-beyond-ukraine-russia-west

[32] Prashant Deshande, “Brics’s plan to float a common currency and India’s reaction to it”, The Times of India, 11 de julho de 2023.

[33] Sobre os efeitos das sanções, um dos grandes problemas é a falta de dados críveis. Ver Stephanie Stamm e Yuka Hyashi, “Is Russia’s Economy Growing or Shrinking?  It Depends on the Forecaster”, Wall Street Journal, 26 de abril de 2023.

[34] É o caso do Quincy Insitute, que dá amplo espaço às críticas ferrenhas (anteriores à agressão russa da Ucrânia) das políticas americanas de sanções do economista Daniel McDowell.  Bucking the Buck : US Financial Sanctions and the International Backlash Against the Dollar (Oxford, 2023) https://quincyinst.org/event/bucking-the-buck-u-s-financial-sanctions-and-the-international-backlash-against-the-dollar/ . Não por acaso, esse discurso é retomado na França, no Le Grand Continent, cf. https://legrandcontinent.eu/fr/2023/04/26/10-points-sur-les-sanctions-americaines-et-la-dedollarisation/. Sobre o Quincy Institute, ver https://en.wikipedia.org/wiki/Quincy_Institute_for_Responsible_Statecraft.

[35] “America is dying – warns of hyperinflation, Death of US Dollar”, News Bitcoin, 8 de abril de 2023.

[36] Peter Schiff, “Get Rid of your US dollars now”, citado no News Bitcoin, 8 de abril de 2023. Disponível im https://news.bitcoin.com/economist-peter-schiff-advises-get-rid-of-your-us-dollars-now-warns-usds-reserve-currency-status-in-jeopardy/

[37] Ver François Godement, “Remède à l’eurocrise, la Chine”, Le Monde, 4 de agosto de 2011. Harold Thibault, “Avec l’agence de notation Dagong, Pékin veut diffuser sa vision financière du monde”, Le Monde, 4 de Agosto de 2011.

[38] Caderno +, Folha de São Paulo, 16 de junho de 1996, p. 5.

[39] Citado no Caderno + da Folha de São Paulo, numa edição dedicada à dolarização do da América Latina, 7 de março de 1999.

[40] Paul Krugman, “High GPD is great, but a vacation might be nice too”, New York Times, 21 de abril de 2023. The Economist https://www.economist.com/leaders/2023/04/13/the-lessons-from-americas-astonishing-economic-record

[41] Tyler Cowen, “The Dollar Rules the world”, Bloomberg, 13 de abril de 2013. Sendo que algumas transações podem ser libeladas e duas divisas, a soma faz mais de 100.

[42] Sebastain Horn, Bradly C. Park, Carmen M Reinhart, Christoph Trebesch, China as an International Lender of Last Resort, Working Paper 124, Aiddata, Março 2023.

[43] Peter Coy, “China would benefit from being less harsh with its struggling debtors”, The New York Times, 19 de abril de 2023. Para uma descrição pormenorizada dos problemas que os países endividados com a China encontram, ver também “Remarks by Conselor to the Secretary of Treasury Brent Neiman at the Peterson Institute for International Economics, US Department of State, 20 de setembro de 2022.

[44] Sobre o default do Sri Lanka, ver Dushni Veerakon, “Sri Lanka on the Brink”, Foreign Affairs, 14 de abril de 2022. Sobre o tipo de obras realizadas com fundos e empresas chinesas, ver Amanta Perera, “Local fears grows over chinses Projects in Sri Lanka, The Third Pole, 30 de novembro de 2018. Ver também Christina Lu, “China Is a Loan Shark With No Legs Lefts to Break”, Foreign Policy, 15 de maio de 2023.

[45] Brice Pedroletti, “Le Laos accablé par la dette chinoise”, Le Monde, 2 de Agosto de 2022.

[46] Editorial Board, “How to avoid another global debt crisis”, The New York Times, 17 de abril de 2023. Ver também Anne O. Krueger, “Breaking the Debt-Relief’s Paralysis”, Project Syndicate, 23 de abril de 2023

[47] Michael Pettis, The High Price of Dollar Dominance. The Dollar is the Worst Reserve Currency. Except for the Rest”, Foreign Affairs, junho de 2023.

[48] Ibid.

[49] Emilian Libman, Juan Martin Ianni, Guido Zack, “Argentina Bimonetaria: como salvar al peso sin morir em el intento”, Fundar, 17 de abril de 2023.

[50] Eduardo Affonso, “O dono da língua”, O Globo, 29 de abril de 2023.

[51] Ibid.

[52] https://en.wikipedia.org/wiki/A_language_is_a_dialect_with_an_army_and_navy

[53] Amano T, Ramírez-Castañeda V, Berdejo-Espinola V, Borokini I, Chowdhury S, Golivets M, et al. (2023) The manifold costs of being a non-native English speaker in science. PLoS Biol 21(7): e3002184. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3002184

[54] Charles P. Kindleberger, “The Politics of International Money and World Language”, Essays in International Finance, n. 61. Princeton University.  Agosto de, 1967.

[55] Ibid.

[56] “Banking, Trade, and the Making of a Dominant Currency” The Quarterly Journal of Economics (2021), 783–830. doi:10.1093/qje/qjaa036.  Advance Access publication on October 27, 2020

[57] Jack Nicas e Ana Lakes, “Think 9% of inflation is bad? Try 90%”, The New York Times, 6 de agosto de 2022.

[58] Argentina Bimonetaria, cit.

[59] É possível consultar os dados oficiais do Banco Central Argentino em: <https://www.bcra.gob.ar/PublicacionesEstadisticas/Principales_variables.asp>

[60] Paul Krugman, “The dollar in decline? Not so fast”, The New York Times, 14 de abril de 2023.

[61]https://fr.wikipedia.org/wiki/Administration_des_Nations_unies_pour_le_secours_et_la_reconstruction

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