Chamada para publicação – Revista Lugar Comum n.º 40
A Revista Lugar Comum: Estudos de mídia, cultura e democracia (ISSN/1415-8604) está selecionando artigos para seu próximo número, buscando, em especial, colaborações para a realização de uma sessão temática sobre “Potência dos Pobres”.
CHAMADA
Num contexto de crescimento econômico e relativa inclusão social, o discurso ao redor da pobreza está no centro do debate. De slogan de governo, pesquisas empíricas abrangentes a sofisticadas teorias filosóficas, o estatuto dos pobres determina a constituição política do presente. Enquanto subsistem as teses de que, para continuar desenvolvendo o país, é preciso educar, conscientizar e qualificar os pobres que agora “ascendem” ao mercado de trabalho e de consumo; há elaborações que não deixam de apontar uma requalificação da política “desde baixo”, com profundas repercussões no tecido social (Giuseppe Cocco, 2010; Jessé Souza, 2012).
Se parte da esquerda, nostálgica de um passado que nunca viveu, só consegue denunciar nos últimos anos uma “sedução das massas”, causada pela massificação de políticas sociais, esvaziando o conteúdo ideológico das esquerdas num irreversível “realinhamento eleitoral”; o caso aqui é assumir outra perspectiva, menos unilateral, em que os pobres não sejam incrustrados nas teorias como mero objeto dessas políticas, mas como seu principal agente, como força produtiva e devir menor.
Partir dos pobres, — esse povo por vir de que falava Gilles Deleuze referindo-se ao cinema terceiromundista de um Gláuber Rocha, povo antropófago que não deixa constituir uma interioridade fechada — como a linha de fuga dos impasses e nós górdios inerentes à dialética entre esquerda e direita, no interior dos muitos desenvolvimentismos na história da politicologia nacional. Assim, em vez de desdobrar as figuras do pobre conforme a matriz da modernidade (eurocêntrica e capitalista), tomá-lo como alteridade radical a essa lógica monocultural e homogênea, em sua multiplicidade constitutiva. Tomá-la como dotada de mil novas estéticas e novas culturas afirmativas de resistência, de uma arte própria de refazer a vida e repotenciá-la, além das mediações do estado e do mercado capitalistas.
A miséria, produto de um sistema econômico desigual e cotidianamente violento, não se confunde com a pobreza: enquanto manancial de formas de vida e produção do comum. Apesar da face de privação e sobrevivência da pobreza, a encarar-se sem romantismos, o desafio desta edição é repensar os pobres como sujeitos. Ou melhor, é pensar com os pobres e a partir de sua perspectiva singular, como face potente, liberta da negatividade com que é classificado por teorias que o enxergam “desde acima”, finalmente invocado no pensamento além das camisas-de-força de teorizações elitizadas.
Se os desenvolvimentismos e teorias da modernização esvaziam o pobre como o resíduo de subdesenvolvimento a erradicar-se, a proposta aqui é revelar o vazio da própria lógica da modernização quando comparada, perspectivamente, à multiplicidade de que são feitos os mundos produtivos na pobreza.
Serão selecionados artigos que tratem do tema apresentado, por exemplo, sobre a constituição de uma nova classe social no Brasil recente; estéticas da multidão (produção na pobreza e formas de vida); devir-pobre, devir-índio e devires de raça; lulismo como agenciamento produtivo; e outras temáticas correlatas à potência dos pobres no contexto do Brasil ou América do Sul.
As propostas de artigos (especificações abaixo) podem ser enviadas, até o dia 15 de maio de 2013, para os seguintes membros do Comitê Editorial: hamletvictrix@hotmail.com ou corsinileonora@gmail.com
Além da publicação impressa, todos os números da revista estão disponíveis online em https://dev.integrame.com.br/lugarcomum
Atenciosamente,
os editores.
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ESPECIFICAÇÕES para a elaboração dos artigos:
As colaborações devem ter de 20.000 a 40.000 toques (com espaços), em formato Word, e deverão conter:
a) título, seguido de nome do(s) autor(es);
b) referências, sempre ao final do texto, apenas das obras mencionadas;
c) resumo de, no máximo, 50 palavras na língua original do texto;
d) palavras-chave;
e) breve nota bibliográfica do autor que indique, se for o caso, onde ensina, estuda e/ou pesquisa, sua área de atuação e principais publicações;
f) indicação, em nota à parte, caso o texto tenha sido apresentado em forma de palestra ou comunicação;
g) se for tradução, trazer o nome e e-mail do tradutor, e indicação de onde o texto foi publicado, caso não seja inédito.