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Cinco ideias sobre Podemos

Por Marta G. Franco (@teclista), no Madrilonia, dica de Javier Toret | Trad. UniNômade

Fundado em março de 2014, com uma fração de ativistas que participou do movimento do 15-M, o novo partido espanhol Podemos partiu das redes mobilizadas pelos Indignados para, inesperadamente, conquistar cinco cadeiras nas eleições ao Parlamento Europeu. 

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1. Podemos não é apenas Pablo Iglesias

São dezenas de círculos territoriais e temáticos. Uma rede desdobrada no estilo do 15-M, com nós que se replicam autonomamente. Criticamos o personalismo porque, ainda que possamos entender a estratégia midiática, relutamos em aceitar que um líder faça falta, para não cair de certa maneira no mais do mesmo. Deixemos de mirar na pessoa-líder e assumamos o potencial diverso e mutante que tem uma organização assim. Ajudemos seus militantes a descentralizá-la e transbordá-la.

2. O êxito do Podemos não é uma vitória da televisão sobre as redes

 

Sair na TV não basta pra ganhar 1.245.948 votos. Que o diga Elpidio Silva, que ficou em 105.183. Além disso, Pablo Iglesias chegou às televisões abertas a partir das redes: seu carisma se engendrou no Youtube. E desde os círculos territoriais e temáticos se fez campanha de maneira digital e analógica, com um baixo orçamento “crowdfundeado” e as técnicas generalizadas pelo 15-M: hashtags coordenadas, vídeos virais, correntes de mail faça-você-mesmo, assembleias de bairro… até pinturas de faixas de pedestre om giz.

3. Para quem não crê no regime pós-ditadura, de 1978, é uma boa notícia

Vejam, a quarta força mais votada está falando do fim da Cultura da Transição, e da abertura de um novo processo constituinte. Um monte de gente deixou de votar no Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e na Esquerda Unida (IU), e buscou uma opção que parece de maior ruptura. Não me venham com essa que votando se desmobilizam: não acredito que os ex-eleitores de PSOE e a velha guarda da IU estavam muito ativamente nas ruas. Sim, claro que está bem que nos lembrem, a cada instante, que fazem falta “um pé nas instituições e mil pés nas ruas”. A frase, repetida por Teresa Rodríguez, é a epígrafe da lista de Podemos. As pessoas nas ruas dizem: “e se, em vez de insultar completamente esta via que nos parece tão pouco interessante, buscamos no escoamento das forças institucionais as alianças para que não nos cortem desde cima os mil pés?”.

4. Talvez valha revisar uma hipótese: a identidade da esquerda poderia seguir valendo

Estamos há três anos evitando entrar no esquema bipolar, e agora chega Podemos com “certa” retórica esquerdista. E mais: 27% do eleitorado votaram em partidos identificados como esquerda (e, se aceitarmos a autodefinição do PSOE, 50%). Note-se que disse “certa”: o próprio Pablo Iglesias insistiu em transcender ideologias e apelar a “pessoas decentes”. Quiçá o nos faça falta seja uma identidade de esquerda renovada, mais fluida e menos petrificada do que aquela que desmobiliza. Alijada da superioridade moral, mas consciente que nosso caminho pertence, e deve muito, a uma história de lutas e referentes do que se chamam esquerdas.

5. Agora, duas batalhas: o municipalismo e evitar o fechamento da IU

 

A casta que o recorte de Iglesias inclui — me perdoem seus militantes honestos — na cúpula da IU está emaranhada em conselhos de administração, cooptação de movimentos e outros assuntos baratos que têm a ver demais com o Regime de 78. A boa notícia é que está demonstrado que não faz falta pactuar com ela para ser “alguém” na esquerda do tabuleiro. Sigamos movendo as fichas por aí. Agora, a aposta é municipalista: ganhar terreno na governança local para impulsionar desde o cotidiano e o concreto um processo constituinte. Os círculos são um espaço potente, seguramente receptivo. Esta é uma a mais das muitas alianças de que precisamos, mas a ninguém escapa o que é mais interessante hoje em dia, por seu frescor e aceleração. Isto é, o momento de acreditar em todo esse trabalho em redes, não competitivas, da inteligência coletiva. Ser espertas, generosas, rápidas e, juntas, assaltar o céu.

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