Cycle de séminaires SOULÈVEMENTS OU RÉVOLUTIONS?

Cycle de séminaires SOULÈVEMENTS OU RÉVOLUTIONS?

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O ponto de partida deste seminário são duas controvérsias: a primeira é a de uma longa troca de várias cartas abertas (publicadas pela AOC) que opôs Georges Didi-Huberman e Enzo Traverso em torno da exposição Soulèvements, organizada pelo primeiro. Enquanto Didi-Huberman se preocupa em compreender o que faz levantar, o que diferencia a potência do levante do poder que a bloqueia ou captura, Traverso critica essa abordagem em nome da necessidade de estabelecer o que é efetivamente “revolucionário” e que constituiria, portanto, a verdadeira dimensão do político. Enquanto o primeiro aproxima desejo e desobediência, o segundo parece querer reconduzir o projeto político à razão. Estaria, então, em jogo uma hierarquia entre revolução e levante, sendo este último reduzido ao nível pré-político do motim, expressão das emoções. Enquanto o mundo é sacudido por revoltas, toda uma nova leva de livros e seminários sobre a história social da Revolução¹ acaba por soar como um chamado à ordem.

Enquanto a polêmica entre os dois autores se desenvolve a partir da foto de Gilles Caron escolhida para ilustrar o cartaz e a capa do catálogo da exposição, esse mesmo catálogo contém — entre outras — uma intervenção de Antonio Negri, que nos conduz a outra controvérsia, não mais sobre a hierarquia que se deveria observar entre “a” revolta espontânea e a “revolução” organizada, mas entre poderes constituídos e poder constituinte. Em diversos países (Polônia, Estados Unidos, Brasil), assistimos recentemente à chegada ao poder de um novo tipo de populismo (ou fascismo) cujos atos foram contidos (provisoriamente) pelo funcionamento dos mecanismos de check and balance dos “poderes constituídos” (o processo democrático que derrotou os populistas na Polônia; o fracasso de Trump em modificar o resultado eleitoral; a “proteção” do processo eleitoral por parte do Supremo Tribunal no Brasil). Assim, por um lado, a onda insurrecional apareceu, em 6 de janeiro de 2020 no Capitólio e em 8 de janeiro de 2023 em Brasília, como um fascismo (um conspiracionismo); por outro, nos países onde governos provenientes de outro populismo — desta vez de esquerda — haviam passado por um processo constituinte (com a promulgação de novas constituições), os mecanismos de salvaguarda democrática deixaram de funcionar: é notadamente o caso da Venezuela (mas também da Nicarágua, da Bolívia e, em menor medida, do Equador). Muitos observadores consideram que essas “constituintes” foram o cavalo de Troia das derivas autoritárias.

Eis, portanto, os termos de uma grande confusão que é ao mesmo tempo o resultado enigmático da crise cada vez mais profunda que atravessamos e a fonte de suas consequências mais nefastas, das quais a guerra já é hoje o rosto obsceno. Como mobilizar as energias radicalmente democráticas que hoje nos faltam diante da ascensão quase inexorável da nova direita? Não é por acaso que as trocas entre Didi-Huberman e Traverso partem de uma fotografia, de sua legenda e de sua disposição e circulação no espaço. Se as imagens da história cultural da revolução (a barricada, a bandeira vermelha, o punho cerrado etc.) nos tranquilizam quanto a seus significados e vias de ação, não deveríamos experimentar outras imagens, outras formas de encenação e espacialização, para abrir novos imaginários? Diante do déficit de imaginação, de capacidade de comunicação e de mobilização, não vale correr o risco de outros arranjos ou formas de assembleias?

Não pensamos, com esta menor, resolver tais impasses; mas, ao mesmo tempo, recusamo-nos a permanecer na irresponsável — senão impotente — enumeração complacente dos sintomas dessa paralisia política. Para tanto, mobilizamos reflexões que atravessam e são atravessadas por essas duas controvérsias: das questões político-estéticas que Didi-Huberman e Traverso mobilizam um contra o outro, às enigmas da luta democrática contra as novas formas de fascismo no Brasil ou nos Estados Unidos, passando pelas forças e fragilidades do momento constituinte chileno. As questões em jogo nesses debates e confrontos são, portanto, de diversas naturezas: políticas, filosóficas, históricas, estéticas e outras mais. Tratam-se de relações complexas entre movimentos e governos, entre poderes constituintes e poderes constituídos; mas também de ambiguidades e conflitos de sentido, de experiências necessárias, com todos os riscos de erro; tratam-se das relações entre forma e conteúdo, das imagens dialéticas, das manifestações ambivalentes cujos gestos e significados são disputáveis. Trata-se, sobretudo, da relação entre desobediência e um desejo inesgotável.


¹ Une Histoire Globale des Révolutions, de Ludivine Bantigny, Quentin Deluermoz, Boris Gobille, Laurent Jeanpierre, Eugénia Palieraki (Éditions La Découverte, 2023) e o livro de Enzo Traverso, Révolution – Une Histoire Culturelle (Éditions La Découverte, 2022).*

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Data e hora

25/01/2024 Até
04/04/2024
 

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