Por Rodrigo Bertame, em seu blogue Linhas de fuga, 18/10
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Na terça 15, dia dos professores, no Rio, um imenso ato marca a data. Na manifestação, grupos de diversos movimentos caminham juntos, indivíduos , instituições, sindicatos, partidos, ideologias, todos seguindo da Candelária até a Cinelândia.
É legítimo dizer que manifestar-se já se tornou parte da paisagem urbana, bancos com as suas fachadas de tapumes de compensado, lojas liberando seus funcionários mais cedo, há um novo padrão de comportamento, estar no ato, aplaudir o ato e, o melhor, entender o ato é a nova rotina da cidade.
Acaba oficialmente, por parte do sindicato, o ato dos professores por volta das oito da noite. A multidão permanece firme na rua, alguns começam a partir, mas ainda há muita gente na hora em que iniciam-se as ações diretas mais radicais na guerra entre praticantes da tática black bloc e agentes da PM, o conflito segue em meio a pedras e bombas de gás, até que num dado momento são flagrados, por parte da PM, tiros de arma letal, em outro momento e noutra situação, um carro da polícia militar é incendiado, a cidade se torna realmente palco de uma guerra, uma explosão de tensão e revolta de ambos os lados, cujo fim é o mais inesperado de todos.
Em um momento quando de ambos os lados estão mais calmos, é dada voz de prisão a centenas de manifestantes que estavam sentados na escadaria da câmara dos vereadores, ao lado do acampamento chamado OcupaCâmara, e todos estes são levados a diversas delegacias dentro de dois ônibus da polícia e um requisitado na hora pelos policiais.
Assim tem-se seguido o rumo dos atos, numa constância de falta de diálogo, e com desqualificação mais ostensiva do “vandalismo”, onde o estado tenta buscar os meios de punir e eliminar aquilo que não tem controle, tenta hierarquizar aquilo que não tem hierarquia, tenta identificar organização e liderança naquilo que não é organizado verticalmente, e criminalizar coisas que não podem ser definidas como crime.
O caminho da violência pela violência (seja justificada pelos autores ou não) tende a se tornar um ciclo vicioso de crescimento em exponencial que pode nos levar a um futuro muito delicado ou ao não-futuro, Estamos diante de um momento crucial, em que armas letais já estão sendo utilizadas. O que se constrói com isso? Seguiremos o mesmo rumo que nos levou a incorporar como parte da cidade a guerra ao “tráfico”? Inserir conceitos para classificar quem vai aos atos como grupo criminoso e organizado, e manter no território uma constância do conflito armado? Diante de um panorama que era de pedras e balas de borracha, surgem tiros de pistola: é este movimento que o estado pretende?
Assim no 15-O, um ato que deveria terminar com uma proposta de abertura de diálogo entre os professores e as secretarias de educação do governo (estadual e municipal) preferiu a deflagração de um combate direto, pondo de um lado uma juventude altamente revoltada e cansada da situação neste governo, e de outro lado uma tropa policial altamente estressada com todo este excesso de trabalho
Isto nos coloca em aberto uma questão maior:
– Por que um soldado ou oficial da PM tem que resolver as questões que cabem à secretária de educação?
Cada ausência de diálogo com representações sociais por parte das instituições de poder amplia ainda mais o espaço para a descrença em qualquer tipo de poder constituído e representatividade, e por sua vez abre o caminho para a violência e a guerra.
Talvez por isso vemos de um lado tiros, de outro pedras, mas urge a abertura de um canal de comunicação e uma proposta de entendimento, por parte dos dois lados desta moeda antes. Antes que venhamos todos a chorar um morto nisto tudo; lembrando também que tanto de um lado como de outro, algumas pessoas buscam um morto para chamar de seu.