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Livro: Movimentos em marcha; ativismo, cultura e tecnologia

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Em 2011, começando na Tunísia, manifestantes ocuparam as praças e ruas do norte da África, do Oriente Médio, da Europa e da América do Norte. Foi uma época vibrante, quando parecia despontar uma saída inédita ante a crise do capitalismo global em curso. Movimentos em rede pelo mundo antecipavam o que parecia ser uma ruptura no coração da economia e política dominantes, construindo uma alternativa radical de recusa e desejo, com o que resistiram, por muitos meses, à ofensiva policial, da grande imprensa e mesmo da esquerda tradicional. Enquanto isso, no Brasil, pipocaram algumas ocupas na casa das centenas de participantes, e proliferaram marchas com uma cara diferente nas principais cidades. Em vez de passeatas à francesa, com suas bandeiras, camisas uniformizadas e carros-de-som com cúpulas, apareceu nas ruas uma composição multicolorida e heterogênea.

Reunindo o desbunde comportamental dos anos 1960 e sua afirmação artístico-cultural, a estética dos indignados do movimento antiglobalização dos 1990, bem como o altermundismo dos fóruns sociais dos 2000; juntando as palavras de ordem “demande o impossível!”, “outro mundo é possível!” e “não nos representa!”; essa relativamente pequena expressão do movimento mundial no Brasil — pequena em termos quantitativos, mas, tal qual o zapatismo, enorme qualitativamente — acabou sendo objeto de uma continuada polêmica.

Enquanto os “novos movimentos” anunciavam a revolução da própria forma de fazer política, ultrapassando velhas dicotomias e os velhos adágios da luta de classe; a “velha esquerda” tomava-os por vanguarda do inimigo, como reprodutores de um capitalismo mais perverso, que não hesitava em vestir-se com as roupas de guerrilheiro para vender.

Para um lado, a luta estaria ameaçada pelo rancor, pela treva constitutiva na maneira de viver a própria luta, pela incapacidade de entusiasmar e animar as novas gerações, agora mais ligadas à força intrínseca por dentro da cultura pop, subculturas urbanas ou novas formas de organização e produção colaborativa, e inteiramente desinteressadas no imaginário da militância do século 20. A luta de classe ficou para trás, com seus reducionismos dogmáticos, nestes novíssimos tempos quando a riqueza das redes, a era digital e o cubo card prometem a redenção derradeira de quem quer viver a liberdade.

Para o outro lado, a luta estaria anulada pela cooptação por estado e mercado, reduzida a organizações e pautas perfeitamente acomodáveis no multiculturalismo liberal e tolerante, mais interessadas na gestão de marcas do que em contestar a ordem do mundo, e não por acaso irrigadas copiosamente pelas torneiras do status quo; mas de toda forma concentradas em explorar o trabalho e extrair o máximo de valor de novos estilos, estéticas e projetos culturais, outros nomes para a velha mercadoria. Free como em free market free work, quer dizer, agora é a hora da gratuidade do trabalho pela revolução, convertido em verbas de publicidade, publicidade, mais publicidade. Quanta oportunidade em fazer do Occupy uma brand! na melhor teoria pós-moderna exclamativa radical-chic.

Em meio ao fogo cruzado, à complicada gradação e variantes entre os extremos de um e outro lado; cachos de textos, artigos, resenhas e debates encarniçados, editados num único e convidativo documento, por Henrique Parra, Pablo Ortellado e Silvio Rhatto. Ordenado em sequência cronológica, todos datados de 2011, e disponível para download, é um mosaico fotográfico das reflexões e críticas do “novo campo”, aberto no Brasil em ressonância à Praça Tahrir, ao 15-M dos Indignados e ao Occupy Wall Street.

Download “Movimentos em Marcha”: https://emmarcha.milharal.org/files/2013/05/MOVIMENTOS-EM-MARCHA-livro.pdf

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Ver também: O comum e a exploração 2.0, texto analítico da UniNômade Brasil à época do 3º Fórum de Mídias Livres (Porto Alegre, janeiro 2012), onde sintetiza a questão do ponto de vista da crítica da economia política do capitalismo cognitivo.

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