O embate protagonizado pela reencarnação das figuras do capitão, do coronel do nordeste e dos burocratas servis de São Paulo, tem nos empurrado para uma lógica cujo resultado poderá ser um segundo turno que sintetiza mais um momento do prolongamento sem-fim da situação política brasileira, com desdobramentos para além das eleições.
Eis a fórmula tão estranha e aberrante: um pequeno e até decepcionante desvio, dotado de efeitos tão incomensuráveis. Uma longa lista de insuficiências e limites (conhecidos por todos, dentro e fora da campanha) onde se inscreve um amplo repertório de possibilidades. Será esta a tão comentada fraqueza de Marina e Eduardo? Aquilo que os faz menos convenientes para o momento? Seja qual for a avaliação, existe, sem dúvida, uma força irredutível que deriva dessa situação incômoda. Pois é no interior do paradoxo que move a campanha de Marina que podemos encontrar a luz crua de uma clareza sem plena figuração. Quando a lógica das trincheiras é removida da frente de nossa visão, o que reaparece é a lógica fascinante da própria política: atingir os pressupostos, estabelecer novas conexões com o mundo e transformar a vida na fronteira da criação.