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O segundo tempo de Obama

Entrevista de Michael Hardt sobre a reeleição de Obama nos EUA | Original no site alfabeta2 | Tradução ao italiano: Madalena Bordin | Tradução ao português do italiano: Hugo Albuquerque | Revisão: Bruno Cava

Como muitos notaram, na reeleição de Obama, assistiu-se a uma mobilização muito menor de ativistas. Na esquerda, a recente campanha eleitoral gerou um entusiasmo e uma esperança muito mais modestos do que em 2008. O que explica, pelo menos em parte, a redução da margem de votos da segunda vitória de Obama. Hoje, seus apoiadores não estão mais inebriados pelo sonho de mudança, como estiveram na primeira vitória. Eles foram levados a uma avaliação mais sóbria: ou era isso, ou uma alternativa desastrosa. E talvez agora, paradoxalmente, a reeleição de Obama possa ter um efeito direto mais positivo, em comparação ao primeiro mandato, para agitar os movimentos sociais antagonistas.

A vitória de 2008 produziu respostas complexas e contraditórias, por parte dos movimentos nos Estados Unidos. De um lado, a impotente mobilização pela campanha eleitoral e o fraco entusiasmo seguido à votação levaram, imediatamente depois da posse, a uma dissipação um tanto quanto rápida do ativismo. O governo Obama não deu espaço ao movimento: ao contrário, tratou de calar-lhe a boca. A prática geral foi silenciar a esquerda e negociar com a direita, perseguindo uma linha política moderada, distante da ardente esperança de seus apoiadores. Mas além de calar a boca dos movimentos, o pragmatismo falhou miseravelmente, visto que não pôde atingir sequer os objetivos mais modestos.

Além disso, não é difícil supor que todos aqueles militantes, que estiveram tão empenhados pela eleição de Obama, relutassem em atacar o projeto político do novo governo, apesar da continuidade da guerra do Afeganistão, a manutenção da prisão de Guantánamo, a decepcionante política social, e assim por diante. Portanto, os anos posteriores a 2008 foram marcados por uma atividade bastante morna dos movimentos sociais. Por outro lado, estou convencido que a explosão do Occupy Wall Street, e de outros movimentos Occupy que se espalharam pelo país em 2011, foi, em larga medida, engendrada e sustentada pelo recuo da experiência da eleição de Obama. A minha opinião é que muitas daquelas pessoas haviam depositado tanta fé em Obama e terminaram profundamente desiludidas com o resultado, confluindo para os movimentos de ocupação. Visto assim, o desencanto com Obama teve uma consequência decisivamente positiva. Passada a lua de mel, e como resposta, a existência dos Occupy se deveu a necessidade de acreditar em algo novo.

Durante o período da ocupação, os militantes do Occupy se mantiveram longe do governo Obama. Depois, com a expulsão das praças e o início da campanha eleitoral, eles ainda se recusaram a fazer parte da dinâmica eleitoral. Se existe alguma coisa de consenso na miscelânea que se transformou o Occupy, é a desconfiança e aversão aos programas eleitorais. Assim, é razoável supor que, ao menos indiretamente, o Occupy e a sua retórica desempenharam um papel significativo nas eleições presidenciais de 2012. Os candidatos foram constrangidos a retornar continuamente ao tema do abismo entre os ricos e os pobres, os 99%, os 47%, e assim por diante. O que levou à escolha política assumida por Romney de encarnar os valores das finanças e do establishment terminar derrotada, principalmente graças ao terreno preparado por Occupy. Mas a vantagem que Obama teve não resultou de um apoio direto dos ex-ativistas.

Agora que Obama foi reeleito, há dois possíveis cenários que, a meu ver, se abriram. Ambos colaboram para uma nova emergência dos movimentos. Uma possibilidade está em que, no segundo mandato, Obama se desvincule do cálculo eleitoral e oriente suas escolhas políticas à esquerda. Dar voz aos movimentos sobre imigração, saúde e bem estar social poderia ser útil na intransigente disputa com o Partido Republicano, ainda que seja só para acumular mais resultados modestos.

A outra possibilidade, talvez mais verossímil, é que o giro à esquerda não aconteça, e que Obama permaneça indiferente aos movimentos, continuando presumivelmente as suas negociações com a direita. Só que, desta vez, os movimentos não estiveram umbilicalmente vinculados à candidatura Obama, o que os deixará muito mais livres para atacar suas ações. Em consequência disso, é provável que assistiremos a uma evolução muito mais agressiva do caráter antagonista dos movimentos, que agora não terão mais paciência para suportar a incapacidade e as reticências de Obama em gerar as mudanças há muito esperadas. Creio, portanto, que a falta de entusiasmo da esquerda nos confrontos de Obama nesta eleição, e o lúcido reconhecimento de seus limites, poderiam vitalizar uma situação potencialmente favorável, e que a sua reeleição poderia inaugurar para o movimento um estágio de luta muito mais participativo e antagonista, de um modo que não se viu durante o primeiro mandato.

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