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Obrigado, garis: amanhã vai ser maior

Por Marcelo Castañeda, sociólogo e UniNômade

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imagem: coletivo vinhetando

A vitória dos garis foi uma vitória da mobilização, da coragem e da alegria. No sábado de noite, estava subindo a rua debaixo de um guarda-chuva e encontrei um gari recolhendo o lixo. Parei para parabenizá-lo e ele alargou o sorriso. Perguntei sobre as conquistas do movimento grevista e ele falou dos R$ 1.100,00 e dos R$ 20,00 de tíquete alimentação. Falei das horas extras e do adicional de insalubridade, sem falar na garantia de que ninguém será demitido. Ele sorriu de novo, estava feliz, de alma lavada.

É uma vitória em múltiplas frentes. Uma vitória sobre certos “teóricos” da oportunidade política, que diziam não ser hora de deflagrar uma greve em pleno carnaval. Estavam errados. Uma vitória sobre o cinismo, a arrogância e a intransigência do prefeito Eduardo Paes que, como no caso do preço das passagens em junho de 2013, disse até sábado pela manhã no Globo que era impossível atender às reivindicações. A negociação a favor dos garis mostrou que o prefeito blefava e estava errado em desqualificar o movimento como um “motim”, como uma minoria de radicais. Foi derrotado nessa disputa. Uma vitória sobre a narrativa da Globo, parceira de Paes, que acusou a derrota imposta pelos garis: o Jornal Nacional deste sábado dedicou de 15 a 30 segundos, sem imagens, para falar do “fim da greve”. Nada mal para quem dedicou boa parte dos discursos e imagens para desqualificar o movimento durante uma semana, em conluio com Paes.

Agora, a estratégia das organizações Globo é conhecida: nada mais falará sobre o movimento para que o esquecimento se instale. Mas o estrago está feito. Uma vitória sobre certas burocracias sindicais, que fazem seus acordos sem consultar as bases, mostrando que a mobilização é mais forte que essas estruturas, fadadas ao desaparecimento. Esse formato de organização sindical sofreu uma derrota diante de um movimento autônomo e horizontalizado. Por fim, é uma vitória sobre o judiciário que, atuando em sintonia com Paes e a mídia corporativa, decretou a ilegalidade da greve em 2 de março, no domingo de carnaval. Os garis venceram o medo com sua indignação, esperança e alegria.

O mais interessante é que ninguém antes, ali pelo 20 de fevereiro, imaginaria um movimento como esse dos garis. Ainda estamos sob os efeitos de junho: a imprevisibilidade dá as cartas e as estruturas estão todas balançando. A indignação está à solta e a abertura para a negociação em prol dos garis mostra, mais uma vez, que o medo mudou de lugar. O poder constituído pelos governos e mídia corporativa está vulnerável. E tudo que eles querem é que as mobilizações cessem e que a Copa aconteça. Mas como saber qual será a próxima mobilização, atravessando o #NãoVaiTerCopa? Daí a “abertura” para cessar o movimento dos garis que, gerando solidariedade, certamente cresceria caso as demandas não fossem atendidas. Exatamente uma semana, foi o tempo necessário para que essa mobilização com atos diários desabrochasse sua potência de mudança.

No saldo final, têm-se um prefeito derrotado, um judiciário desmoralizado, a Globo ridicularizada. No contexto das lutas, um dos méritos dos garis foi recolocar a Globo e o poder na defensiva. Fizeram uma bonita onda laranja, com alegria e apoio social. Que as demais lutas tirem seus aprendizados e que a luta dos garis embale todas as outras que estão à espreita.

Obrigado, garis: amanhã vai ser maior!

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