UniNômade

A pietà da revolução no século 21

Pietá

 

Por Giuseppe Cocco

Ela não precisou de um Michelangelo para ser pintada. Imagem trágica da revolução no Egito, onde o ditador manda matar os ativistas de esquerda que comemoram a revolução da Praça Tahrir, lembrando seus mártires.

A vitória de Syriza, com todas as ambiguidades e problemas que o governo de Tsipras venha a encontrar, mostra que a fúria assassina do poder é apenas uma fraqueza: o medo mudou de lado pra valer e as relações cúmplices entre estado e mercado não conseguem mais gerar valor algum. O capitalismo global é a própria crise. Ditadura e fundamentalismo-nazi são seus produtos perversos.

No Brasil, estamos numa situação parecida.

Em nome de uma suposta paz, matam-se todos os dias dezenas de pobres. O segundo governo Dilma está destruindo os (poucos) direitos dos trabalhadores mais pobres e pratica, de maneira soberana, um ajuste fiscal que deveria ser — como primeiro ajuste — a sanção popular diante de sua gestão fracassada.

Não era a “Copa das Copas”? Não era o “Brasil Maior”, das barragens, plantations e submarinos nucleares? Não era o IPI para multinacionais do automóvel mandarem remessas bilionárias ao estrangeiro? Não era, para a esquerda (?) do PT, que não havia movimento para mudar a “correlação de forças”? O que fizeram quando o movimento veio? Destruíram-no cinicamente para continuar contando a grana da Petrobrás.

A figura da Pietà egípcia é hoje a figura dos pobres e da luta por mais democracia neste triste início de 2015 no Brasil. Mas, por trás do cinismo do poder e suas representações, ele está fraco.

Somos todos Shaima, Amarildo, Cláudia e o sem-número de mártires de uma luta pela democracia que ainda temos de construir. Somos todos Charlie!

 

Giuseppe Cocco é professor titular da UFRJ e participa da rede UniNômade.

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