Pierre Madelin | 6 de setembro 2025
Há muitos meses observo, com tristeza e resignação, em uma parte da esquerda “radical”, especialmente nos meios ecologistas, uma perda total de discernimento político quando se trata de apoiar a causa palestina — como se esta, imperiosa, vital (redentora?), autorizasse as piores alianças, como se permitisse todas as regressões reacionárias em meios que se orgulham, contudo, de estar na vanguarda da luta “contra todas as dominações”. Fouad Benyekhlef mostrou isso muito bem recentemente no contexto da Bélgica: “Em nome da Palestina, alguns progressistas fecham os olhos para desvios alarmantes. Por trás da solidariedade escondem-se, às vezes, agendas políticas estranhas à emancipação. Antissemitismo, islamismo, confusionismo: a luta descamba quando se sacrificam os valores. Estar ‘do lado certo da história’ não é gritar com a manada, mas permanecer fiel a seus princípios.”
Uma solidariedade cega que também encontramos na esquerda “radical” ecologista. Foi primeiro Andreas Malm, que expressou seu entusiasmo pelos massacres de 7 de outubro de 2023 e depois escreveu um texto delirante (publicado pela La Fabrique) no qual afirmava que não poderia haver saída do capitalismo fóssil sem a destruição de Israel (ver a análise notável que Ivan Segré propôs no lundimatin, nos comentários). Depois, os Soulèvements de la Terre, que convocaram a uma “intifada da Terra” em aliança com meios decoloniais (Paroles d’Honneur, QG Décolonial), cujos protagonistas (Bouteldja, Boussoumah, etc.) se destacaram inúmeras vezes por declarações antissemitas e campistas.
Agora é a revista Terrestres, que publicou ontem um texto estarrecedor e vergonhoso de um tal Hamza Hamouchene. Do ponto de vista factual, encontram-se nele, sem dúvida, verdades sobre a dimensão ecocida da dominação colonial israelense (e, claro, sobre a guerra genocidária conduzida em Gaza) e sobre as graves desigualdades socioecológicas que dela decorrem entre judeus israelenses e palestinos. Mas tudo isso vem envolto numa escatologia decolonial segundo a qual a salvação da humanidade e da Terra passa pela libertação da Palestina, a qual implica claramente, no texto, a destruição de Israel, acompanhada de um elogio enfático à “resistência” e aos meios que ela escolhe para lutar — quaisquer que sejam. Assim, pode-se ler: “É por isso que os movimentos pela justiça climática e as organizações antirracistas e anti-imperialistas devem apoiar a luta de libertação e defender o direito dos palestinos de resistir por todos os meios necessários” ou ainda: “Não pode haver justiça climática sem desmantelar a colônia sionista de Israel”. E mais adiante, uma apologia implícita de 7 de outubro: “Antes de 7 de outubro, a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita era iminente, no âmbito de um acordo concebido sob a égide dos Estados Unidos que teria aniquilado a causa palestina. As ações da resistência palestina perturbaram esses planos.”
E o que dizer desta frase delirante que figura logo no início do artigo: “Não pode haver verdadeira justiça climática em escala mundial sem a libertação do povo palestino, assim como esta luta de libertação está intrinsecamente ligada à sobrevivência da Terra e da humanidade.” Se não resta dúvida de que a Palestina é hoje, ao lado da Ucrânia, do Xinjiang ou do Sudão, um dos palcos da violência de massa e da barbarização do sistema internacional — e que, portanto, nossa humanidade comum aí se encontra em jogo —, é difícil não ver um imaginário antissemita latente nessa escatologia eco-decolonial, segundo a qual a salvação da Terra e da humanidade passaria pela libertação da Palestina mediante a destruição de Israel. E nessa representação de Israel como um cadeado que seria preciso, a qualquer custo, arrebentar para libertar o mundo do mal — e, em especial, do grande mal contemporâneo que é a devastação ecológica da Terra. Como se, segundo as palavras de um amigo, “libertar a Palestina fosse a mãe de todas as lutas e permitisse acionar a resolução da crise climática, das violências coloniais, da crise ecológica, do racismo etc.”, e como se existisse uma “‘boa’ humanidade enraizada, originária e colonizada que se deve defender frente a uma elite globalizada e predadora, sem tradições nem vínculos, onde convergem sionismo / capitalismo / colonialismo”.
Como conheço bem esses meios intelectuais-militantes e seu funcionamento interno, como sei o quanto, apesar do espírito libertário que muitas vezes exibem, o conformismo e as injunções de estar do lado certo da história podem ser sufocantes, e como pode ser intenso o desejo de não perder o reconhecimento das “tribos morais” junto às quais se busca afiliação e pertencimento, creio adivinhar qual foi a lógica que presidiu à publicação desse texto. O verão, de fato, foi marcado por acusações de racismo contra o movimento ecologista. “Vocês são todos racistas”, ouviu-se no festival Les résistantes. “O pensamento do vivo é racista”, também se ouviu nas universidades de verão do QG decolonial, antes que essa acusação infamante e ridícula em sua generalidade fosse retomada por um obscuro coletivo de Arles, a fim de convocar ao boicote do festival Agir pour le Vivant. Podemos imaginar que, após essas interpelações, os membros (alguns membros?) da revista Terrestres quiseram mostrar o quanto são bons aliados antirracistas e decoloniais. O resultado: um texto delirante apoiando o Hamas e fazendo, “pudicamente”, o elogio de um massacre. Você disse miséria da “radicalidade”?