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Quando a filosofia faz pop

Por Bruno Cava e Murilo Duarte Costa Corrêa, na Navalha de Dali (blogue autoral), em 18/9/17

Uma semana depois, a publicação de A pop filosofia que falta poderia sugerir que “aderimos ao contemporâneo”. Talvez isso se deva ao fato de criticarmos as esquerdas e a sua relação ontológico-política (ou crítico-destrutiva, ou pragmático-negativa) com as imagens. Teríamos entregado as armas?
 
Talvez nos perguntem “qual esquerda” criticamos. E perguntaríamos de volta: “quais esquerdas ainda existem?” e “sob que estranhas formas ainda existem as esquerdas?”. Talvez especulássemos: “sob a forma da destruição das imagens, ou da crítica negativa pela via das imagens (ou sob as imagens), vivendo-a como o ticket de volta ao real perdido – a aguardada passagem de volta e para fora de Dungeons and Dragons“. Estranha sensação de jamais estar à vontade entre imagens, a das esquerdas. O que jamais se perguntariam ao ler A pop filosofia que falta é “qual adesão ao contemporâneo vocês propõem?” ou “Em que termos?”, já que não parece possível negá-lo – e a inércia dialético-reativa das esquerdas está aí para provar precisamente isso. 

A pop filosofia que falta resulta da acumulação de uma série de práticas atualmente em curso no campo social, mas também de todos os mal-entendidos sobre a relação entre a crítica, a imagem e o real – e isso encerra toda uma nova possibilidade para a política. Não inventamos nada, exceto uma forma de expressão para essa matéria que já encontramos em movimento.

 
Aderir àquilo que o contemporâneo tem de absolutamente inatual no cerne mesmo da sua atualidade (uma ideia nada estranha a leitores de Foucault ou Deleuze) é colocar em jogo o estatuto do real a partir de uma política que leve a sério as imagens. Nosso problema não são as imagens, mas o seu real. Não se trata do mesmo velho problema das esquerdas: “a falta de real das imagens”, mas de revirar o seu excesso. Não é o espectador, mas o engodo comprado a crédito de seu desapossamento do real pela intervenção da imagem. Por isso, lemos Débord ou Agamben com a boa vontade interpretativa de lacanianos lendo o Anti-Édipo: lemos sorrindo.
 
Nossos leitores talvez se espantem e digam que fazemos “um elogio naïf do contemporâneo!”, “uma peça de fé ingênua na tecnologia, como se ela produzisse por si mesma a liberação da humanidade”. De nossa parte, só podemos dizer que nada do que está escrito em A pop filosofia que falta se presta a uma tal interpretação.
 
A exemplo do contemporâneo, a técnica não é para ser acreditada ou desacreditada; elogiada ou perseguida. Ela não designa mais do que um meio heterogêneo e conectivo em que o desejo social e político desliza, com o qual ele se agencia tanto em termos de controles como de fugas. É no que a atualidade tem de absolutamente inatual (virtual), que é preciso entrar para captar linhas de fuga. Eis o nosso modo de dizer sim. Eis o que faz da pop filosofia uma postura, um gesto, um maneirismo. Um vício baixo, talvez. Eis a matéria do nosso elogio, eis também a nossa apologia do contemporâneo: única maneira de resistir.
 
O estatuto positivo do programa profundamente político que se encontra em “A pop filosofia que falta”, no entanto, permanece inteiramente intocado. E o nosso convite continua de pé: pop philosophy ‘n chill !
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