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QUESTÃO DE VIDA OU MORTE: O DESAFIO POLÍTICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

Por Altamir Tojal –

É muito difícil manter o distanciamento e o isolamento social mesmo nos países em que o governo central apoia ou determina, articulando com os demais poderes e níveis da administração pública e com a sociedade. É difícil mesmo quando todos remam na mesma direção.

Esta tem sido até agora a única medida eficaz para conter os efeitos da pandemia Covid 19 até que novos tratamentos, medicamentos e vacinas eficazes sejam criados e possam ser produzidos e disponibilizados para a população do planeta, ou seja, para a humanidade.

SACRIFÍCIO E RECOMPENSA

O sacrifício é grande nos países que cumprem o distanciamento e o isolamento, mas os resultados estão sendo positivos: o “achatamento da curva” de contágio, redução de mortes e possibilidade de tomada de medidas para a ampliação cautelosa e organizada da circulação e o reinício de atividades econômicas que tiveram de ser suspensas.

Isso começa a ocorrer na China e em outros países da Ásia e está anunciado na Europa e outros lugares. Governos em todas as regiões perseguem esta estratégia e trabalham para definir formas seguras e sustentáveis, ou seja, com o menor risco possível de retrocesso das medidas de flexibilização.

BRASIL NA CONTRAMÃO

Aqui nem chegamos a ter decretado um isolamento efetivo. O que ocorre é o auto isolamento de quem quer e pode e medidas de governadores e prefeitos restritivas à circulação de pessoas e a algumas atividades.

No Brasil, enquanto o presidente da república atua contra o distanciamento e o isolamento social e manipula politicamente a questão sanitária, já estamos vivendo aumento que poderia ter sido evitado do contágio, do sofrimento, de milhares de mortes e chegamos ao colapso do sistema de saúde em muitas cidades. Isso tende a piorar nas próximas semanas.

PIOR PARA A ECONOMIA

O efeito sobre a economia, que já é devastador, deverá ser ainda mais grave. Já somos o país que tem uma das maiores desvalorizações da moeda, um dos piores desempenhos no mercado de ações e certamente a queda do PIB no Brasil será maior que a da média dos demais países como prevê o Banco Mundial.

O desemprego que já era enorme aumentou em cerca de um milhão de pessoas e o colapso da economia informal impõe a milhões de trabalhadores precários o dilema de ter de escolher entre a fome e o risco da doença e da morte. A renda emergencial aprovada ainda não alcança grande parte das pessoas mais pobres. Medidas de apoio a empresas parecem não ser suficientes para preservá-las e salvar postos de trabalho.

SEM PROTEÇÃO SOCIAL

Tudo isso significa mais risco de contágio pelo vírus, de sofrimento e mortes e também mais dificuldade para a retomada econômica.

O sistema de proteção social é insuficiente no Brasil e inadequado às transformações sociais e econômicas que ocorrem no mundo há bastante tempo. Tudo o que não foi feito nas últimas décadas em termos de investimento em saúde, educação e infraestrutura está apresentando agora a conta multiplicada pela gravidade da crise.

AÇÃO GENOCIDA

Tudo indica que o presidente Jair Bolsonaro continuará agindo para agravar a crise de saúde e consequentemente a situação econômica do país, seja para tentar evitar que seu clã preste contas à justiça seja por objetivos eleitorais, ou pior, ditatoriais. Tudo isso camuflado por um discurso negacionista.

Ele afastou o Ministro da Saúde que vinha fazendo a coisa certa e piorou o ambiente político com a manobra que levou à saída do Ministro da Justiça. Conclama a população a se insurgir contra as únicas medidas sanitárias que funcionam. E não dá sinais de que vai mudar a sua linha de atuação genocida.

OBJETIVOS PESSOAIS E POLÍTICOS

Ao contrário, ele segue atacando as medidas de afastamento e isolamento social. Convoca as pessoas a desobedecer a governadores e prefeitos e investe contra o Congresso Nacional, o sistema de justiça, a imprensa, a ciência, a medicina e quem mais ouse criticar e se contrapor ao seu projeto. A situação de governadores e prefeitos fica insustentável. A crise se agrava dentro da federação e entre os poderes. Além de genocida, a atuação de Bolsonaro é explicitamente antidemocrática.

Ele demonstra crueldade ao usar com objetivos pessoais e políticos a crise sanitária, o medo da fome nas famílias e a angústia de empreendedores em ruína. Aposta que o seu domínio sobre a máquina federal, o apoio de setores militares, religiosos e do empresariado, os seus seguidores organizados e o controle de uma engrenagem poderosa nas redes sociais serão capazes de subjugar adversários e a sociedade, compensando eventuais desgastes que seu posicionamento genocida e ditatorial possa impor.

PELA VIDA E A DEMOCRACIA

O presidente da república não só foge à responsabilidade e ao juramento de defender a população e a democracia como atua contra o esforço da sociedade para se proteger e se preservar.

A sociedade brasileira que enfrentou mais de vinte anos de ditadura, venceu a hiperinflação, suportou um dos maiores assaltos da corrupção de que se tem notícia no planeta e passa por um longo período de estagnação econômica, agora está diante de um desafio político do mesmo porte ou talvez maior que todos estes, está diante de uma questão de vida ou morte: evitar o sofrimento e a dizimação de compatriotas numa escala que parece imprevisível, a destruição da economia e a asfixia das instituições e da própria democracia.

 

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