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Vídeo do comum: hoje é um novo tempo

Vídeo: Todo mundo junto

Texto, por Adriano Pilatti

A partir de junho ele(a)s tomaram as ruas pra questionar a predação das cidades e seus fluxos pelo Capital, pra questionar a redução da pólis ao jogo de dados viciados da representação fake.

Foram recebidos a golpes de cassetetes, balas de borracha (e, mais adiante, de chumbo mesmo), gás lacrimogêneo e spray de pimenta em quantidades industriais, desqualificação, perseguição, prisão. Em nenhum momento os podres podere$ constituídos demonstraram real disposição de escuta, diálogo, abertura à contribuição crítica dos corpos e mentes em movimento constituinte. Não fossem o(a)s bravo(a)s e incansáveis midialivristas, socorristas e advogado(a)s da multidão, muitas tragédias mais teríamos chorado.

Ainda assim perseveram na luta – e conservam sensibilidade, generosidade e inteligência suficientes pra responder com beleza, grandeza e leveza a todas as agressões que sofreram e continuam a sofrer. Cantando e dançando, recuperaram a Praça e a Escadaria em que tantas coisas maravilhosas e horrendas aconteceram ao longo do ano.

Ali e nos arredores tantos nos reencontramos ou conhecemos, partilhamos nossos risos, prantos, gritos, cantos, tremores, abraços, ideias, sonhos e revoltas. Para lá e partir dali, mil experimentos de convivência, ação e produção convergiram e se espraiaram como as ondas diante dos penhascos. Experimentos constituintes, com a marca dominante e indelével da autonomia, do respeito recíproco, da horizontalidade e do diálogo.
Nestes dias, o(a)s menino(a)s satanizados como “filhinhos de papai” (pausa longa para rir), “rebeldes sem causa”, “niilistas”, “fascistas” etc estão se desdobrando em mil iniciativas para recolher roupas, alimentos, brinquedos e outros gêneros de primeira necessidade para oferecer aos excluídos de sempre e às mais novas vítimas da negligência governamental. Seu único poder é o maior: a potência constituinte insurgente de seus corpos e mentes em cooperação. Têm tido muito mais juízo do que as “otoridades” que os perseguem enquanto continuam a tripudiar dele(a)s e de todos o(a)s pobres, privatizando até o céu do reveillon.

Acompanhei emocionado as gravações desse belo momento de respiro no dia 1º de dezembro (v. posts na tl). A emoção se renovou ao ver o anti-clip agora, com a convicção de que ele(a)s são mesmo “o sal da terra”, a esperança que resta. Basta ver e ouvir pra ter certeza: não pode parar, não deve parar, não vai parar. Ano que vem vai ser maior – e oxalá os desgovernantes permitam que seja melhor.

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