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Uma semana de protestos na Romênia

Por Greco Christian-Dan, no Centrul de Cultura Anarhista| Trad. UniNômade Brasil (via inglês em ROAM)

Já há uma semana, protestos se espalham pela Romênia, disparados pela resistência contra a exploração de ouro e gás por empresas predatórias de um capitalismo cada vez mais selvagem, inteiramente por dentro da “esfera pública”.

montana

Domingo, 1º de setembro marcou o começo de uma nova era das lutas sociais se desdobrando na Romênia. Manifestações aconteceram em mais de 25 cidades pelo país — contra a mineração de ouro e a extração de gás de xisto. A mesma coisa ocorreu em mais de 20 cidades pela Europa e mesmo na América do Norte.

Por mais de 15 anos, sucede uma luta contra uma empresa de mineração de ouro canadense, que pretende explorar o minério e também a preta das Montanhas Apuseni, na parte ocidental da Romênia. Isto significaria nada menos que o maior projeto de mineração a céu aberto da Europa. A empresa pretende remover a vila de Rosia Montana e quatro cumes de montanhas, apenas para substituí-los por um lago cheio de cianeto. As estimativas são que aproximadamente 200 mil toneladas de cianeto serão usadas, apenas para processar 200 toneladas de ouro e a mesma quantidade de prata. O que vem depois disso é uma catástrofe ambiental regional, com chances extremamente altas de contaminação pela Romênia, Hungria, o Rio Danúbio e mesmo o Mar Morto.

As pessoas da região estão sendo pressionadas a deixar suas casas, e quem permanece e resiste vai ser expropriado pela polícia privada paramilitar da empresa, obviamente em nome do “estado” e do dito “interesse nacional”. A grande imprensa está comprada, bem como o governo. Em 27 de agosto, o governo aprovou a lei que permite que a exploração se inicie. O que falta entre a pretensão e a realidade é uma decisão do parlamento. E isso tudo acontece mesmo quando, pelos últimos 14 anos, o governo admitiu que essa empresa de mineração canadense vem se envolvendo em diversas atividades ilegais.

Ao mesmo tempo, a Chevron está quase iniciando a extração de gás de xisto debaixo de nossos pés. Um número significativo de sondagens ilegais já foi feito. Em algumas partes do país, os moradores das vilas estão boicotando a empresa, roubando os cabos usados para as detonações que têm ocorrido ilegalmente em suas propriedades. Alguns moradores também foram fisicamente abusados pelos capangas privados das empresas envolvidas na exploração (um dos responsáveis é ninguém menos que o empresário Franck Timis, que também é uma das pessoas por trás do projeto Montana).

Se eles começassem a extrair o gás, uma larga porção do país seria destruído, e o meio ambiente intensamente poluído. Dizem-nos que precisamos do gás de xisto para nos livrarmos da dependência indesejada do gás russo, mas não dizem nada a respeito do fato que a Romênia é um dos três países europeus que produzem mais gás do que utilizam. O problema está em que o nosso gás natural está privatizado, e que o gás aqui produzido é vendido a preços baixos beneficiando os países poderosos da União Europeia, enquanto continuamos a importar gás para consumo interno a altos preços.

As pessoas nas vilas está bem informadas, e organizadas por ativistas, a maioria gritando que se a Chevron começar a perfurar os poços, a paz vai acabar, e vão pegar em suas ferramentas como armas e resistir! Slogans como “defenda a sua terra!”, “sabotagem industrial!” e outros desse gênero começaram a ser ouvidos cada vez mais. Em algumas vilas, as pessoas ameaçaram as autoridades. Em outras, como na cidade de Barlad, no centro da resistência, as pessoas tomaram as ruas aos milhares para protestar.

Nos últimos dois anos, os romenos esqueceram que tinham uma voz, que tinham poder, e que podem mudar as coisas. Vários se conformaram com a situação atual de pobreza e corrupção, e esqueceram que podem se unir e lutar juntos. Mas a Chevron e o braço romeno da Rosia Montana Gold Corporation, com a cumplicidade do estado, nos obrigaram a acordar!As pessoas estão com muita raiva: elas se cansaram do que vêm acontecendo nos últimos 24 anos, desde a dita Revolução de 1989. Elas já tiveram o suficiente de um sistema político corrupto e disfuncional e do regime econômico exploratório. Evaporou qualquer esperança de que esta situação seja apenas uma fase de um capitalismo selvagem (um tipo de capitalismo regional, balcânico e corrupto) migrando em direção a um capitalismo mais civilizado e legalista. Se o estado regulamenta o roubo e a destruição por meio da lei, qual o sentido da lei? Quem se beneficia dessa lei e quem são suas vítimas? É hora de agir!

E assim, no 1S, dezenas de milhares marcharam em toda a Romênia. Os ensinamentos do Parque Gezi, em Istambul, chegaram aqui também. Em Bucareste, grupos de discussão e trabalho foram organizados nas ruas durante as manifestações. Todos os dias, as pessoas chegam com um par de barracas, o que é mais do que uma declaração simbólica: “não estamos deixando as ruas!”. Em Cluj, tivemos encontros públicos para discutir a organização para os próximos dias. Nesse período, acontecem protestos noutras cidades. Mais e mais jornalistas independentes começaram a escrever sobre o que está acontecendo. As pessoas recuperaram a sua força de definir a própria narrativa, começando a escrever suas opiniões, postar fotos, propostas em seus perfis de Facebook. Surgiu uma demanda grande por informação real, por informação genuína e verdadeira. Não desistiremos. Não vamos nos render.

Mais precisamente, é agora que a luta realmente começa. A grande imprensa está escrevendo em toda parte que o problema Montana está resolvido. Uma manobra esperta, mas não para nós. A empresa e o estado tentam destruir o movimento atrás de desinformação e mentiras. É isto que a empresa pretende: que nos mostrem como cretinos, e que a verdade seja enterrada sob 2 metros de lama e cianeto. Eles tentam jogar nossos amigos e colegas contra nós. Os “mineiros” das empresas chegam mesmo a dizer que vão bloquear o acesso à Montana — claro, foram ordenados a dizê-lo. Um par de horas atrás, recebemos alguns relatórios dizendo que arquitetos e outros voluntários que trabalham na preservação das velhas construções na vila foram incomodados, xingados e ameaçados. Eles estão com medo e não sabem o que vai acontecer daqui por diante.

Não sabemos o que o amanhã nos reserva. Nem como o futuro se parece. Mas vamos continuar nos manifestando, lutando, organizando mais e melhor, até que a vitória seja nossa, como na verdade já é.

Esta é uma mensagem pela solidariedade internacional. Estamos todos unidos contra nossos inimigos comuns: o estado e o capital, um dia podemos trazer um mundo melhor no lugar do atual. Nossos comuns estão sob ataque: educação, terra, natureza, água, saúde, apenas para nomear alguns. Diante dessa nova onda de acumulação primitiva devemos resistir unidos e fortes.

O lema da resistência é: “A revolução começa em Rosia Montana!”

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Tradutor: Bruno Cava

 

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