Sem Categoria

Entre o imperialismo russo e os oligarcas ucranianos

Pela Oposição de esquerda, no LeftEast, em 7/3, original do site ucraniano, em 3/3 | Trad. UniNômade

Ukraine_1

O sindicato socialista Oposição de esquerda avalia a agressão russa na península da Crimeia e o papel destrutivo dos nacionalistas ucranianos, num estranho pingue-pongue em que uns e outros parecem se justificar as posições. A difícil tarefa do movimento parece ser sair, em diagonal, dos pares fatais impostos pela lógica etnonacionalista. Uma fuga cujo caminho ainda não existe, em meio à fumaça do tempo histórico. Ele precisa ser construído pelos grupos, coletivos e núcleos que trabalham por uma democracia real na Ucrânia.

1) Somos pela autodeterminação da Crimeia somente depois que a Rússia retire as tropas que estão conduzindo uma intervenção flagrante. Somos pela autodeterminação das pessoas, e não da elite mercenária que “autodetermina”, para se proteger dos crimeios com o cano dos fuzis russos. O resultado do separatismo na Crimeia será o renascimento do império russo, o que ameaça o mundo de guerra.

2) A justificativa da agressão de Putin é a histeria nacionalista que os líderes da praça Maidan ignoraram. Piadas xenofóbicas passaram a ser tratadas como algo normal, e mesmo hoje nas passeatas antiguerra ainda são ouvidos slogans provocativos, como “Glória à nação! morte aos inimigos!” A manipulação do Kremlin de alguns desses slogans apavorou as pessoas do Leste e do Sul. Contudo, a agressão começada pela Rússia é patentemente imperialista e voltada contra a república revolucionária — a revolução genuína, esta desfavorável aos oligarcas, que apenas começou a desdobrar-se e que estava colocando firmemente a questão da desigualdade social na ordem do dia.

Uma guerra de libertação, se liderada pelos oligarcas ucranianos iria se resolver em si mesma, com a fascistização da sociedade: nós podemos esperar uma unificação ao redor de interesses nacionais míticos, uma ditadura irrestrita e a condução das políticas sociais na direção da concentração de riqueza nas mãos da elite. O nosso governo pode reivindicar legitimidade social somente quando a desigualdade social for enfrentada. No entanto, nosso governo tem sido legitimado pela ameaça de intervenção estrangeira — nós somos forçados a amar o regime, não nosso país. O governo na Ucrânia está progressivamente passando diretamente para as mãos dos oligarcas (Kolomoisky e Taruta se tornaram governadores). Os oligarcas saquearam o nosso país, e agora eles querem que as pessoas esfaimadas se levantem em defesa de seu estado corrupto!

3) A Maidan não era uniforme — nacionalistas radicais realmente contaminaram o protesto com a xenofobia, mas felizmente eles não determinaram as demandas da praça. A população do Leste e Sul da Ucrânia, bem como pessoas de minorias étnicas, deveriam saber que estiveram na Maidan vários representantes daquelas forças que mantêm uma agenda internacionalista, democrática e de esquerda. Sustentar o mito da “Maidan fascista” é legitimar o uso da força pelos neonazis contra todos aqueles cidadãos que discordam deles. Nós estamos muito tristes em ver que ideias antifascistas estão sendo exploradas para justificar a guerra. Antifascismo é solidariedade, não intervenção!

4) Os cidadãos do Oeste e Centro da Ucrânia deveriam pressionar o governo a não permitir discriminação linguística, destruição de monumentos ou o incitamento de hostilidades desnecessárias. A ucranização liderada pelos oligarcas pode ser percebida apenas em chave chauvinista. É preciso revisar a política idiomática e ampliar o direito de usar a língua materna naquelas regiões onde ela é necessária. A renascença nacional-cultural da Ucrânia e outros povos de nosso país é inseparável da resolução de questões sociais.

5) Nós somos pela preservação de uma Ucrânia unida, como um fenômeno cultural único. A coexistência de várias etnicidades apenas enriquece a cultura humana universal. Se o país se dividir, o domínio dos chauvinistas será estabelecido em ambas as partes. Todos os conflitos na Ucrânia resultam da ditadura dos oligarcas. A Ucrânia pode ser consolidada se puder derrotas o domínio dos oligarcas — os trabalhadores do Leste e Sul igualmente querem mudança social e eles devem entender que inflamar o conflito simplesmente anula os prospectos de melhorar um futuro imprevisível.

6) O governo da Rússia é controlado pelos defensores mais conservadores dos interesses capitalistas. E, é por isso que quem advoga por um referendo de “reunificação” com a Rússia é melhor se prepare para uma polícia política e por uma agenda antissocial. Nós não vamos permitir o precedente de uma vitória do imperialismo russo. A despeito das alegações dos nacionalistas ucranianos burgueses, não existem quaisquer traços do socialismo na Rússia. A população da Ucrânia vai começar a odiar os russos ainda mais, enquanto no interior das massas russias vão se fortalecer ilusões imperialistas e revanchistas. Promessas inspiradas em Hitler de uma vida melhor vão culminar numa catástrofe para a nação agressora. Não nos esqueçamos que esta guerra é também uma oportunidade para o capital ocidental trazer seus próprios exércitos e tomar parte do território ucraniano.

7) É necessário apelar em primeira instância à população ucraniana russofalante e aos russos, para que não apoiem a guerra. Eles devem sabotar a mobilização e a movimentação das tropas de ocupação, enquanto exercem uma pressão contínua sobre o governo russo e sua capital. O imperialismo russo consiste em usar a população para fortalecer seu domínio, por meio de um referendo. É necessário criar brigadas internacionais para manter a ordem legal, opor-se aos chauvinismos mútuos, defender instalações estratégicas, levar a propaganda [antiguerra] às tropas, e também se opor ao desarmamento das tropas ucranianas. É preciso formar destacamentos de trabalhadores para a autodefesa de seus lugares de trabalho, para proteção contra a intervenção externa e as mãos cobiçosas de seus oportunistas “donos”. Organizar destacamentos com aqueles em quem você confia, ou quem você esteja preparado a eleger! As forças armadas ucranianas devem agir sob o controle civil. Por que morrer sob a liderança de ultranacionalistas como Parubiye Yarosh? Na cabeça inepta deles, acumulam erros táticos sobre a Euromaidan e alimentam hostilidades interétnicas. Por que morrer pelos interesses de grandes clãs proprietários? Os trabalhadores de todas as nações deveríamos aprender a solidariedade com os oligarcas ucranianos — eles conseguiram superar todas as diferenças e se uniram ao redor de seus interesses comuns de classe.

X