Por Miguel Lanzelloti Baldez, 83, procurador do estado (RJ) e fundador do núcleo de terras da procuradoria.
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É uma época estranha esta. A imprensa, que se diz libertária, pedindo repressão, sempre repressão, sempre e mais. São insaciáveis. Agora mesmo a morte de um cinegrafista quase se transformou numa festa nacional, não fosse a imposição do luto próprio de tais ocasiões… Os principais jornais destas nossas duas cidades, Rio e São Paulo, comemoravam na morte que ninguém desejou a oportunidade para exigir do Estado a prisão de dois jovens, visivelmente acuados e assustados, presos como autores do ato, tendo junto a eles, sem muita clareza, um advogado e um senhor delegado, que qualificou o ato, evidentemente casual, como homicídio doloso qualificado… Haja nesta terra mais e mais faculdades de direito….
Não é de se estranhar que sobressaiam na identificação dos moços acusados a TV Globo que, além de simbolicamente autuá-los, principalmente quanto ao primeiro acusado, fez com indisfarçável prazer e no ar o interrogatório policial do já prisioneiro. E nós cidadãos que a tudo assistimos passivamente, quem sabe de vez anestesiados pela universalidade e poder de convencimento da televisão? Trata-se de ultrajante agressão à inteligência e à ética das pessoas.
À imprensa e às forças reacionárias que a manipulam só interessa criminalizar os movimentos populares. Visam sempre quem lhes parece mais fácil de atacar, seu alvo preferido são sempre os black blocks, uma conhecida tática de enfrentamentos, como sabem os razoavelmente informados, e não uma temível organização, como dizem eles. Ah! Usavam máscaras. Um susto… Mas se as usam, e não há leis que, sendo constitucionais, as proíbam, só o fazem para não se mostrarem à violência da repressão e à covardia da polícia.
Pois a reação – e todos lembram do apoio do Jornal O Globo à ditadura militar e seus crimes e torturas – e os jornais do Rio e de São Paulo querem fazer dos black blocks o ponto primeiro da repressão, criminalizando-os para, depois, estender esta criminalização aos demais setores do povo que resistem ao processo de facistização da sociedade brasileira, atualmente em curso, e vão às ruas, repetindo o já histórico junho de 2013. Essa gente e seus jornais, mesmo que usando máscaras, não lograriam esconder o que lhe está na alma, nos gestos, no sentimento, – o fascismo de fato, cruel e silencioso, societal enfim.
Olho neles, brasileiros, atenção democratas, não se deixem levar pela exploração do legítimo sofrimento causado com a morte de um compatriota nosso, não permitam que transformem uma cruel fatalidade num sorrateiro e indigno golpe baixo nas instituições democráticas.
É hora, companheiros, e agora quem vos fala e concita é o advogado, é hora de a OAB assumir seu papel histórico. Não vamos permitir que nos roubem de novo as fundamentais prerrogativas da magistratura e o habeas corpus.
Pois já nos ameaçam com criminalização dos movimentos populares… E aí, caríssima OAB?